O DIA EM QUE GOTTFRIED BENN PEGOU ONDA
(Tauchen mußt du können, mußt du
lernen […])
É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo. É preciso aprender.
Há dias de sol por cima da prancha,
há outros, em que tudo é caixote,
vaca,
caldo. É preciso aprender a ficar
submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a persistir, a não desistir, é
preciso,
é preciso aprender a ficar submerso,
é preciso aprender a ficar lá embaixo,
é preciso aprender a ficar lá embaixo,
no círculo sem luz, no furacão de
água
que o arremessa ainda mais para baixo,
onde estão os desafiadores dos
limites
humanos. É preciso aprender a ficar
submerso
por algum tempo, a persistir, a não
desistir,
a não achar que o pulmão vai
estourar,
a não achar que o estômago vai
estourar,
que as veias salgadas como charque
vão estourar, que um coral vai estourar
os miolos – os seus miolos –, que
você
nunca mais verá o sol por cima da
água.
É preciso aprender a ficar submerso,
a não
falar, a não gritar, a não querer
gritar
quando a areia cuspir navalhas em seu
rosto,
quando a rocha soltar britadeiras
em sua cabeça, quando seu corpo
se retorcer feito meia em máquina de
lavar,
é preciso ser duro, é preciso
aguentar,
é preciso persistir, é preciso não
desistir.
É preciso aprender a ficar submerso
por algum tempo, é preciso aprender
a aguentar, é preciso aguentar
esperar, é preciso aguentar esperar
até se esquecer do tempo, até se
esquecer
do que se espera, até se esquecer da
espera,
é preciso aguentar ficar submerso
até se esquecer de que está
aguentando,
é preciso aguentar ficar submerso
até que o vulcão de água,
voluntarioso,
arremesse você de volta para fora
dele.
Alberto Pucheu
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