segunda-feira, 13 de maio de 2019

Ronda de los metales

RONDA DE LOS METALES
Dedicada a Martha A. Salotti

Del centro de la tierra

,oyendo la señal,
los Lázaros metales
subimos a danzar.

Estábamos dormidos

y costó despertar
cuando el Señor y Dueño
llamó a su mineral.

¡Halá!, ¡Halá!¡

El Lázaro metal!

Veloz o lento bailan

los osos del metal:
el negro topa al rojo,
el blanco al azafrán.

¡Va -viene y va-

el Lázaro metal!

El cobre es arrebato,

la plata es maternal,
los hierros son Pelayos,
el oro Abderrahmán.

Baila con llamaradas

la gente mineral:
Van y vienen relámpagos
como en la tempestad.

La ronda asusta a ratos

del resplandor que da,
y silva la Anaconda
en Plata y en timbal.

¡Halá!, ¡Halá!¡

El Lázaro metal!

En las pausas del baile

quedamos a escuchar-
niños recién nacidos-
el tumbo de la mar.

Vengan los otros Lázaros

hacia su libertad;
salten las boca-minas
y lleguen a danzar.

¡Ya sube, ya,
el Lázaro metal!

Cuando relumbre toda

la cancha de metal,
la tierra vuelta llama¡
Qué linda va a volar!

Y va a subir los cielos,

en paloma pascual,
como era cuando era
en flor la Eternidad.

¡Ha la la lá!¡

El Lázaro metal!

Gabriela Mistral

Da pulsão cinemática


Lacrimae Rerum reúne um conjunto de ensaios sobre cinema moderno. Numa abordagem às filmografias de Kieslowski, Hitchcock, Tarkovski e Lynch, Žižek decripta as imagens e o cinema de cada um destes autores para nos propor um estudo aprofundado dos seus motivos e movimentos. E colocando-nos face aos nossos próprios medos/desejos, estabelece a ponte final da análise entre o espectador-receptor e a projecção das suas pulsões em imagens tão familiares quanto fabricadas.

¿Quién no tiene su vestido azul?


Altura y pelos

¿Quién no tiene su vestido azul?
¿Quién no almuerza y no toma el tranvía,
con su cigarrillo contratado y su dolor de bolsillo?
¡Yo que tan sólo he nacido!
¡Yo que tan sólo he nacido!

¿Quién no escribe una carta?
¿Quién no habla de un asunto muy importante,
muriendo de costumbre y llorando de oído?
¡Yo que solamente he nacido!
¡Yo que solamente he nacido!

¿Quién no se llama Carlos o cualquier otra cosa?
¿Quién al gato no dice gato gato?
¡Ay, yo que sólo he nacido solamente!
¡Ay!, ¡yo que sólo he nacido solamente!


César Vallejo

cuando todos se vayan



Cuando todos se vayan a otros planetas
yo quedaré en la ciudad abandonada
bebiendo un último vaso de cerveza,
y luego volveré al pueblo donde siempre regreso
como el borracho a la taberna
y el niño a cabalgar
en el balancín roto.
Y en el pueblo no tendré nada que hacer,
sino echarme luciérnagas a los bolsillos
o caminar a orillas de rieles oxidados
o sentarme en el roído mostrador de un almacén
para hablar con antiguos compañeros de escuela.

Como una araña que recorre
los mismos hilos de su red
caminaré sin prisa por las calles
invadidas de malezas
mirando los palomares
que se vienen abajo,
hasta llegar a mi casa
donde me encerraré a escuchar
discos de un cantante de 1930
sin cuidarme jamás de mirar
los caminos infinitos
trazados por los cohetes en el espacio.


Jorge Teillier

Giovanni Segantini



il pleure dans mon coeur



Il pleure dans mon coeur
Comme il pleut sur la ville ;
Quelle est cette langueur
Qui pénètre mon coeur ?

Ô bruit doux de la pluie
Par terre et sur les toits ! 
Pour un coeur qui s'ennuie,
Ô le chant de la pluie !

Il pleure sans raison
Dans ce coeur qui s'écoeure.
Quoi ! nulle trahison ?...
Ce deuil est sans raison.

C'est bien la pire peine
De ne savoir pourquoi
Sans amour et sans haine
Mon coeur a tant de peine !

verde


Notoriamente tóxico e quimicamente instável, o verde demorou a conquistar o mundo. Ausente das pinturas no Neolítico e remetido a um papel discreto na Antiguidade, o verde foi durante os séculos seguintes associado a tudo o que é volúvel, desde a juventude e o amor até à sorte e ao destino. Só na época romântica se tornou definitivamente a cor da natureza, o que lhe permitiu conquistar um lugar privilegiado na paleta de cores do Ocidente.

As edições Orfeu Negro prosseguem a publicação da obra do historiador francês Michel Pastoureau, um dos maiores especialistas na simbólica das cores e em heráldica. Depois de PRETO e AZUL, é a vez da cor verde nos contar a sua (e a nossa) multifacetada história, num tom simultaneamente erudito e pleno de curiosidades.

Por gracia de morir todas las noches



Por su pinta poeta de gorrión con gomina,
por su voz que es un gato sobre ocultos platillos,
los enigmas del vino le acarician los ojos
y un dolor le perfuma la solapa y los astros.
Grita el águila taura que se posa en sus dedos
convocando a los hijos en la cresta del sueño:
¡a llorar como el viento, con las lágrimas altas!,
¡a cantar como el pueblo, por milonga y por llanto!
Del brazo de un arcángel y un malandra
se van con sus anteojos de dos charcos,
a ver por quién se afligen las glicinas,
Pichuco de los puentes en silencio.
Por gracia de morir todas las noches
jamás le viene justa muerte alguna,
jamás le quedan flojas las estrellas,
Pichuco de la misa en los mercados.
¿De qué Shakespeare lunfardo se ha escapado este hombre
que un fósforo ha visto la tormenta crecida,
que camina derecho por atriles torcidos,
que organiza glorietas para perros sin luna?
No habrá nunca un porteño tan baqueano del alba,
con sus árboles tristes que se caen de parado.
¿Quién repite esta raza, esta raza de uno,
pero, quién la repite con trabajos y todo?
Por una aristocracia arrabalera,
tan sólo ha sido flaco con él mismo.
También el tiempo es gordo, y no parece,
Pichuco de las manos como patios.
Y ahora que las aguas van más calmas
y adentro de su fueye cantan pibes,
recuerde y sueñe y viva, gordo lindo,
amado por nosotros. Por nosotros.

O-que-sabe


1. Palavras / de Qohélet filho de Davi //
 rei  / em Jerusalém

2. Névoa de nadas / disse O-que-sabe //
 névoa de nadas / tudo névoa-nada

3. Que proveito / para o homem ///
 De todo o seu afã //
 fadiga de afazeres / sob o sol

4. Geração-que-vai / e geração-que-vem //
 e a terra / durando para sempre

5. E o sol desponta / e o sol se põe ///
 E ao mesmo ponto //
 aspira / de onde ele reponta

6. Vai / rumo ao sul //
 e volve / rumo ao norte ///
Volve revolve / o vento vai //
e às voltas revolto / o vento volta

7. Todos os rios / correm para o mar //
e o mar / não replena ///
Ao lugar / onde os rios / acorrem //
para lá / de novo / correm

8. Tudo tédio palavras //
como dizê-lo / em palavras ///
O olho não se sacia / de ver //
e o ouvido não se satura / de ouvir

9. Aquilo que já foi / é aquilo que será //
e aquilo que foi feito // aquilo / se fará ///
E não há nada novo / sob  sol

10. Vê-se algo / se diz eis / o novo ///
Já foi / era outrora //
fora antes de nós / noutras eras

11. Nenhum memento / dos primeiros vivos ///
E também dos vindouros / daqueles por vir /
deles não ficará / memória //
junto aos pós-vindos / que depois virão

12. Eu Qohelet O-que-sabe / eu fui rei /
se Israel / em Jerusalém

13. E do meu coração eu me dei /
a indagar e inquirir / com saber //
sobre o todo / de tudo o que é feito / sob o céu ///
Torpe tarefa/ que deu Elohim /
aos filhos do homem / para atarefá-los

14. Eu vi / todos os feitos //
que se fazem / sob o sol ///
E eis tudo / névoa-nada / e fome-de-vento

15. O que é torto / não se pode endireitar ///
E  o que é falho / não se pode enumerar

16. Palavras para o meu coração / eu as disse //
eis-me / aumentei e avultei / o saber //
muito além / de quantos me foram antes /
sobre Jerusalém ///
E por dentro de mim / vi no auge / o saber e a ciência

17. E do meu coração eu me dei / a saber o saber //
e a saber da loucura / e da sandice ///
Soube // também isto / é vento-que-some

18. Pois / em muito saber / muito sofrer ///
E onde a ciência cresce / acresce a pena

Transcriação do Eclesiastes, do hebraico, pelo poeta  Haroldo de Campos.

confissões de um travesti



“Tenho quarenta e três anos, sou casado e pai de família. (…) Nem sempre vivi fascinado pela roupa feminina. Durante muitos anos, até ao meu casamento, eram só as cuecas delas que me atraíam. Embora ainda não tivesse chegado, talvez, a altura de vestir toda a toillette de uma mulher, esse desejo crescia já em mim e esperava a ocasião para se manifestar.”

CONFISSÕES DE UM TRAVESTI apareceu pela primeira vez em 1956 na colecção «Les grandes études françaises de psychiatrie», como primeiro volume da série. As memórias deste homem anónimo contam-nos do seu fascínio por lingerie feminina e da prática do travestismo no início do século xx. As ilustrações de João Maio Pinto complementam a detalhada narrativa com um imaginário irreverente e destemido.

rakhil



Desde que conheci um pouco da sua biografia, que integra a minha mais estimada constelação. Isabelle Eberhardt, ou Mahmud Sadi, foi um astro extravagante e excepcional, fadado a arder rapidamente porque demasiado consumido numa voracidade da vida. O seu destino trágico contém muitos símbolos da minha gramática afectiva, começando pelas origens russas, os trajes masculinos de marinheiro, até às viagens exóticas e ao seu fanatismo místico. “Ir para o seio do grande oceano de mistério que é o Saara e fixar-me aí. – Um direito que bem poucos intelectuais fazem o esforço de reivindicar, é o direito à vida errante, à vagabundagem. […] Estarmos sós, sermos parcos no que necessitamos, sermos ignorados, estranhos na nossa casa e em todo o lado; e, solitários e grandes, andarmos à conquista do mundo.” Oh, Isabelle, como não entender as tuas palavras? Lembras-me Rimbaud, as tuas feições andróginas, essa pretensão ao anonimato, a tua promiscuidade (ah, palavra deliciosa!)

Enquanto escritora, não é tão boa. Leio a sua obra para a imaginar melhor. O prefácio de Aníbal Fernandes a Rakhil traz testemunhos desses que a conheceram e tornam-na mais próxima. «Bebia de mais. Era a única coisa que contrastava com a sua profunda aceitação da fé muçulmana. Sim, tinha a religiosidade intensa dos místicos e dos mártires. Vivia como um homem, como um rapaz, porque bem mais parecia rapaz do que rapariga. Mas era, com o seu ar de hermafrodita, apaixonada e sensual embora diferente de uma mulher. Ainda por cima com o peito completamente plano. Tinha pequenas vaidades, embora bem mais fosem as de um árabe elegante. Trazia as belas mãos sempre enfeitadas com henna, a roupa sempre imaculada, e quando tinha dinheiro punha desses perfumes intensos que os árabes adoram. […] Houve uma época em que passava dias inteiros nos suks, e ao ver um homem que lhe acendia o desejo, engatava-o. Fazia-lhe um sinal e saíam dali juntos. Nunca eram hipócrita nem escondia as suas aventuras. Que razão teria para fazê-lo? Não passavam de uma das facetas da sua personagem. Creio que tinha profundos êxtases religiosos; a estes ocultava-os, porém. Era muito rigorosa na observação dos rituais: cinco orações diárias na mesquita, na rua ou no deserto. Estivesse onde estivesse, rezava.”

Rakhil  é uma das poucas novelas que Eberhardt conclui; o caderno final viria a perder-se na mesma cheia do rio Aïn Sefra que matou a sua autora. Estamos assim perante uma novela incompleta, cujo desfecho foi reconstituído pelo amigo e editor de Isabelle, a título indicativo. Como diz AF: “Nunca é levado a boa recompensa imaginarmos os braços e o gesto da Vénus de Milo, ou a cabeça que olharia altivamente os mares sobre aqueles ombros da Vitória de Samotrácia.» Vale, no entanto, a pena perdermos os olhos nesta história de sexo e ciúme, pois aí se olfacteia uma sensualidade outra.