Elias Santana, mais conhecido por Covas na Judite, conduz a investigação. Interroga, anda aos calados, teslê os relatórios e consulta o Livro dos Mortes. Vagueia pela cidade, limpa o jazigo de família e vive sobre o Tejo, tendo por única companhia o lagarto Lizardo. Começamos e acabamos com Covas. O polícia que “ao fim de muitos anos de traquejar com cadáveres malditos” conclui que “o que mata não faz mais que se suicidar nessa morte”.
O móbil do crime não chega a ser explicitado. Os criminosos tinham todos os motivos e, simultaneamente, nenhuns para o crime. Três suspeitos, três conspiradores numa balada de medo. O arquitecto Fontenova e o cabo, evadidos do Forte de Elvas, e Filomena, Mena - a amante voluptuosa e provocadora do Major: mulher em fundo de aves.
O caso arrasta-se num relato que impressiona por se alimentar daqueles que experimentaram a forma dramática de solidão que é o medo. E que ficaram para contar ou dar a contar como o medo tem uma lógica que aliena de valores até um ponto em que se torna assassino. Porque o assassino é o medo.
Tragédias individuais nascidas de um erro colectivo - as sociedades de terror servem-se dos crimes avulsos para justificarem o crime social que elas representam por si mesmas e que em todos esses crimes essa mão está presente, em todos. «O medo é uma forma dramática de solidão», escreve o assassino. Um limite de solidão que aliena todos os valores e permite o crime. E o medo é o assassino.
Brilhante, JCP!
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