terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Romãs & Tonturas




Há já algum tempo que desenvolvo uma predilecção por encontrar misturas perfeitas. Por exemplo: combinar fruta com disposições. Se ao niilismo nada assenta melhor que morangos, a tonturas e estados febris convêm romãs.
E sempre que descasco uma romã, não consigo deixar de acreditar, vá-se lá saber porquê, que a haver uma fruta do pecado no paraíso, seria a romã e não a corriqueira maçã, e que um erro de tradução determinou uma tradição simbólica infinitamente mais pobre.
É capaz de ser uma mistura fatal. Pelo sim pelo não, troquei Adoecer de Hélia Correia pela A Obra ao Negro da Yourcenar. E a coisa começa bem.

" - Tenho dezasseis anos - escusou-se Henrique Maximiliano. - Dentro de quinze, já se poderá ver se por acaso serei igual a Alexandre. Dentro de trinta, saber-se-á se valho ou não o defunto César. Pois irei eu passar uma vida inteira a medir pano numa loja da Rua das Lãs? Trata-se de ser ou não ser um homem.

- Tenho vinte anos – calculou Zenão. – Se tudo correr pelo melhor, tenho à minha frente cinquenta anos de estudo, antes que este meu crânio se transforme em caveira. Ide procurar heróis e devaneios em Plutarco, irmão Henrique. A questão, para mim, é ser mais do que um homem.”

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

UMA RECORDAÇÃO







Não há homem que consiga deixar uma marca
nela. Todo o passado se dilui num sonho
como uma rua na manhã e só fica ela.
Se não fosse a testa franzida por um momento
pareceria atónita. As maçãs do rosto têm sempre
um sorriso.

Também não se acumulam os dias
no seu rosto, nem alteram o sorriso leve
que irradia sobre todas as coisas. Com uma firmeza dura
faz cada coisa como se fosse a primeira;
no entanto vive-a até ao último momento. O seu corpo
firme abre-se, o olhar recolhido,
a uma voz doce e algo rouca: à voz
dum homem cansado. E nenhum cansaço a toca.

Quando se lhe olha para a boca, semicerra os olhos
à espera: ninguém se arriscaria.
Muitos homens conhecem o seu ambíguo sorriso
ou a súbita ruga. Se homem existiu
que a soube queixosa, humilhada de amor,
paga dia após dia, ignorando dela
por quem vive hoje.

Caminhando pela rua
sorri sozinha o sorriso mais ambíguo.



Cesare Pavese, Trabalhar Cansa

as raparigas da província são mais doces




“O carro afrouxava a marcha e eu sabia que antes que o capot se cobrisse de flocos Mr. Gentleman ia dizer que me amava.
Mais do que certo; ele virou para um caminho lateral e parou o carro. Tomou o meu rosto na concha das suas mãos geladas e muito solenemente e muito tristemente disse o que eu esperava que dissesse. E esse momento foi inteira e totalmente perfeito para mim; e tudo quanto até ali eu sofrera foi confortado pela suavidade da sua voz terna e ciciante; sussurrando, sussurrando, como os flocos de neve. Uma espinheira à nossa frente estava revestida de branco como se fosse açucar, e a neve piorou e caía com tal força que mal conseguíamos ver. Ele beijou-me. Foi um beijo de verdade. Afectou todo o meu corpo. Os dedos dos pés, apesar de entorpecidos e apertados dentro dos sapatos novos, reagiram àquele beijo, e durante alguns minutos o meu espírito abandonou-me. Depois senti uma pinga na ponta do nariz e fiquei aborrecida.
«Narizes roxos», disse eu, procurando o lenço.
«O que são narizes roxos?», perguntou ele.
«É o nome dos narizes no Inverno», disse eu. Não tinha lenço, por isso ele emprestou-me o seu.”


Edna O’Brien, Raparigas da Província

Arranca-me o coração




“Viu então, ao virar-se, as três gaiolas. Erguiam-se ao fundo da sala, vazia de mobília. Eram precisamente da altura de um homem não muito alto. As grossas grades quadradas dissimulavam em parte o interior, mas havia qualquer coisa a mexer lá dentro. Tinham todas a sua caminha fofa, a sua cadeirinha e uma mesa baixa. Eram iluminadas por uma lâmpada eléctrica colocada do lado de fora. Aproximou-se, sempre à procura do martelo, e reparou numa cabeleira loira. Olhou com mais atenção, mas pouco à vontade, porque sentia que a senhora o estava a observar. Entretanto, já havia descoberto o martelo. Semicerrou os olhos, enquanto se baixava para o apanhar. E quando o seu olhar se cruzou com o deles, ficou a saber que havia outros meninos ali metidos nas gaiolas. Um deles pediu qualquer coisa e então a senhora abriu a porta e foi até ao pé dele, dizendo umas palavras que André não compreendia, mas que eram de tal modo meigas.
(…)
Desceu os degraus de pedra. Ia-lhe pela cabeça um turbilhão de ideias. E ao chegar ao grande portão doirado, virou-se para trás pela última vez. Devia ser maravilhoso estarem assim todos juntinhos, com uma pessoa para os acarinhar, assim dentro daquela gaiolinha tão quente, tão cheia de amor.”



Boris Vian, O Arranca-Corações

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Days of Wine and Roses



MONA: no i don't want to know where it is - i like the idea i don't know where it is


DONAL: it all has to do with information


MONA: what has to do with information

DONAL: in my work i deal with a lot of facts and figures - the more information you get the more you need - information tells you about things - the more you know about things the more you are in control - the more you are in control the more you need to be in control

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

SÍNDROME DE STENDHAL EM MADRID: HERMITAGE, FEMMES FATALES & EXPRESSIONISTAS












































Síndrome de Stendhal (também conhecido por Síndrome de Florença) é uma doença psicossomática bastante rara, motivada por uma sobredosagem de beleza. Caracterizada por aceleração do ritmo cardíaco, vertigens, falta de ar e até alucinações, decorrentes do excesso de exposição do indivíduo a obras de arte, sobretudo em espaços fechados.