Há já algum tempo que desenvolvo uma predilecção por encontrar misturas perfeitas. Por exemplo: combinar fruta com disposições. Se ao niilismo nada assenta melhor que morangos, a tonturas e estados febris convêm romãs.
E sempre que descasco uma romã, não consigo deixar de acreditar, vá-se lá saber porquê, que a haver uma fruta do pecado no paraíso, seria a romã e não a corriqueira maçã, e que um erro de tradução determinou uma tradição simbólica infinitamente mais pobre.
É capaz de ser uma mistura fatal. Pelo sim pelo não, troquei Adoecer de Hélia Correia pela A Obra ao Negro da Yourcenar. E a coisa começa bem.
" - Tenho dezasseis anos - escusou-se Henrique Maximiliano. - Dentro de quinze, já se poderá ver se por acaso serei igual a Alexandre. Dentro de trinta, saber-se-á se valho ou não o defunto César. Pois irei eu passar uma vida inteira a medir pano numa loja da Rua das Lãs? Trata-se de ser ou não ser um homem.
- Tenho vinte anos – calculou Zenão. – Se tudo correr pelo melhor, tenho à minha frente cinquenta anos de estudo, antes que este meu crânio se transforme em caveira. Ide procurar heróis e devaneios em Plutarco, irmão Henrique. A questão, para mim, é ser mais do que um homem.”
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