em
serpente, diria apenas arabesco; e esconderia
na
saia a mordedura quente, a ferida, a marca
de
todos os enganos, faria quase tudo
por
amor: daria o sono e o sangue, a casa e a alegria,
e
guardaria calados os fantasmas do medo, que são
os
donos das maiores verdades. Já da outra vez mentira
e
por amor haveria de sentar-se à mesa dele
e
negar que o amava, porque amá-lo era um engano
ainda
maior do que mentir-lhe. E, por amor, punha-se
a
desenhar o tempo como uma linha tonta, sempre
a
cair da folha, a prolongar o desencontro.
E
fazia estrelas, ainda que pensasse em cruzes;
arabescos,
ainda que só se lembrasse de serpentes.
Maria do Rosário Pedreira, Poesia Reunida
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