segunda-feira, 26 de agosto de 2013
domingo, 25 de agosto de 2013
sábado, 24 de agosto de 2013
terça-feira, 20 de agosto de 2013
domingo, 18 de agosto de 2013
No fundo, temos todos o mesmo baço.
Falava ontem num jantar de amigos que, desde o Outono de
2011, que sou uma leitora frígida, incapaz de atingir o êxtase. Comparando mais
uma vez os homens aos livros, há uns que nos fodem de tal maneira que nos
tornamos depois insensíveis a outros toques mais desastrados.
Li recentemente Pais e
Filhos de Ivan Turgéniev na esperança de me libertar do sortilégio de
Rodion Romanovitch Raskólnikov. Tinha esperanças que o «pai» do nihilismo me
libertasse. Mas devo confessar que, embora as boutades de Bazárov me tenham divertido bastante, este não chegou a
apossar-se sequer de uma ponta de dedo minha.
Na primeira parte do romance, Bazárov é o nihilista perfeito,
não deixando nenhuma ponta da argumentação por rematar.
“A educação? – retrucou Bazárov. – Cada pessoa deve educar-se a si mesma,
nem que seja como eu, por exemplo... E quanto ao tempo, porque hei-de eu depender do tempo?
Antes dependa ele de mim. Não, meu caro, tudo isso é desleixo, futilidade! E
que são essas relações enigmáticas entre o homem e a mulher? Nós, os
fisiologistas, sabemos que relações são essas. Tu estudas a anatomia dos olhos:
onde ir buscar aqui, como tu dizes, um olhar enigmático? Tudo isso é
romantismo, disparate, literatura. É melhor irmos ver o escaravelho.”
Mas uma argumentação perfeita apenas garante um nihilismo
teórico e rapidamente desejamos ver Bazárov a embater com as realidades que
despreza para vermos como se safa. E eis que este se apaixona por uma dama
(essa sim, uma verdadeira nihilista certificada não apenas pelo pensamento mas
pela vida) e descobrimos que afinal Pável Petróvitch (figura aristocrata e
romântica que Bazárov tanto despreza) e Evguéni Vassílitch aka Bazárov não são
assim tão diferentes. Aliás, as damas fatais de ambos partilham algumas
semelhanças.
Confrontado com o seu próprio sistema nervoso alterado,
Bazárov regressa ao seu orgulho cínico, desta vez afectado por uma raiva redobrada,
pois foi batido. Agora sim, é que nos interessa ver o desempenho da sua teoria.
“ – Já que tu não percebes inteiramente, eu digo-te o seguinte: em minha
opinião, mais vale partir pedra na estrada do que permitir que uma mulher se
apodere nem que seja da ponta de um dedo. Tudo isto é... – Bazárov esteve quase
a dizer a sua palavra favorita, «romantismo», mas conteve-se e disse: -
absurdo. Tu agora não acreditas em mim, mas eu digo-te: fomos os dois cair numa
sociedade de mulheres e foi agradável para nós; mas abandonar essa sociedade é
como tomar um banho frio num dia de calor. Um homem não tem tempo a perder com
tais futilidades; um homem deve ser fero, diz um excelente ditado espanhol.
Pois tu – acrescentou, voltando-se para o mujique sentado na boleia – tu,
sabichão, tens mulher?
O mujique mostrou aos dois amigos a sua cara chata e míope.
- Mulher? Tenho. Como não havia de ter mulher.
- E bates-lhe?
- À mulher? Tudo pode acontecer. Sem motivo não se lhe bate.
- Muito bem. E ela, bate-te a ti?
O mujique puxou as rédeas.
- As coisas que tu dizes, senhor. Estás sempre a brincar... – Pelos
vistos ofendeu-se.
- Estás a ouvir, Arkádi Nikoláevitch? E a nós os dois espancaram-nos... é
no que dá sermos pessoas instruídas.”
E Bazárov safa-se exemplarmente. Curiosamente ou não, será
pela ponta desse dedo que tanto recusa ceder à posse de uma mulher, que o tifo
entrará para o levar à morte. Porque os nihilistas morrem de fisiologia apenas.
segunda-feira, 5 de agosto de 2013
Snapshots de São Petersburgo
"Não há nada melhor do que a Avenida
Névski, pelo menos em Petersburgo; ela é tudo para esta cidade."
Na Avenida Névski, dois amigos, um jovem
pintor e um jovem oficial, partem cada um atrás de uma mulher. O pintor
morrerrá tragicamente, incapaz de obter um acordo entre sonho e realidade. A
aventura do outro terminará na pastelaria com dois pastéis de massa folhada,
depois de ter sido espancado por três artífices alemães.
"É tudo engano, é tudo sonho, nada é
o que parece! Acham que aquele senhor que se passeia com uma sobrecasaca de
corte excelente é muito rico? Nada disso, todo ele se resume à sua sobrecasaca."
Também o assessor
de colégio Kovaliov se resume ao seu nariz. Nariz esse que uma manhã resolve
ausentar-se do rosto deste, disfarçar-se de funcionário do Estado e tentar
passar a fronteira. Será uma carga de trabalhos para o fazer regressar ao seu
lugar. Porque nesta cidade nada parece ocupar o seu lugar, com os objectos a
ocuparem o lugar do humano.
"Mente a qualquer hora, esta Avenida
Névski, mas sobretudo quando, com todo o seu corpo espesso, a noite desce sobre
ela e realça as fachadas brancas e cor de palha, e toda a cidade se transforma
em estrondo e brilho, e miríades de coches se desmoronam das pontes, e os
boleeiros gritam e sobressalteiam nos cavalos, e o próprio demónio acende os
lampiões apenas para mostrar tudo na sua forma ilusória."
Um demónio que se manifesta nos terríveis
olhos do Retrato, e que corrompe o talento de um jovem pintor, com o dinheiro,
a fama e a alta-sociedade. E depois há o homem que copiava, que nunca ninguém
chega a ver para além do seu capote, um fantasma. Tantas infâmias: não admira que um tipo qualquer enlouqueça, comece a interceptar correspondência entre cadelas burguesas e decida reclamar o trono de Espanha...
"Salvaguarda
a pureza da tua alma. Quem transporta o talento em si tem de ser o de alma mais
pura. A outro qualquer será perdoada muita coisa, mas para ele não haverá
perdão."
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