"Não há nada melhor do que a Avenida
Névski, pelo menos em Petersburgo; ela é tudo para esta cidade."
Na Avenida Névski, dois amigos, um jovem
pintor e um jovem oficial, partem cada um atrás de uma mulher. O pintor
morrerrá tragicamente, incapaz de obter um acordo entre sonho e realidade. A
aventura do outro terminará na pastelaria com dois pastéis de massa folhada,
depois de ter sido espancado por três artífices alemães.
"É tudo engano, é tudo sonho, nada é
o que parece! Acham que aquele senhor que se passeia com uma sobrecasaca de
corte excelente é muito rico? Nada disso, todo ele se resume à sua sobrecasaca."
Também o assessor
de colégio Kovaliov se resume ao seu nariz. Nariz esse que uma manhã resolve
ausentar-se do rosto deste, disfarçar-se de funcionário do Estado e tentar
passar a fronteira. Será uma carga de trabalhos para o fazer regressar ao seu
lugar. Porque nesta cidade nada parece ocupar o seu lugar, com os objectos a
ocuparem o lugar do humano.
"Mente a qualquer hora, esta Avenida
Névski, mas sobretudo quando, com todo o seu corpo espesso, a noite desce sobre
ela e realça as fachadas brancas e cor de palha, e toda a cidade se transforma
em estrondo e brilho, e miríades de coches se desmoronam das pontes, e os
boleeiros gritam e sobressalteiam nos cavalos, e o próprio demónio acende os
lampiões apenas para mostrar tudo na sua forma ilusória."
Um demónio que se manifesta nos terríveis
olhos do Retrato, e que corrompe o talento de um jovem pintor, com o dinheiro,
a fama e a alta-sociedade. E depois há o homem que copiava, que nunca ninguém
chega a ver para além do seu capote, um fantasma. Tantas infâmias: não admira que um tipo qualquer enlouqueça, comece a interceptar correspondência entre cadelas burguesas e decida reclamar o trono de Espanha...
"Salvaguarda
a pureza da tua alma. Quem transporta o talento em si tem de ser o de alma mais
pura. A outro qualquer será perdoada muita coisa, mas para ele não haverá
perdão."
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