sábado, 14 de setembro de 2013

À espera da primavera

Ainda não sou flor.
Que se cheire ou se leve para casa e se ponha numa jarra junto a uma janela.
Criei já algumas raízes, é verdade, regadas com o sangue do meu coração, à força de tanto o apunhalar com a voracidade de uma beleza maior.
De tal modo que, às vezes, penso que já não tenho coração. E rio e ironizo, como quem perdeu um acessório fora de moda.
Mas não é verdade: embora raramente, ainda me acontece ser acometida por uma comoção imensa numa rua qualquer. Uma comoção que chega sem aviso e ameaça ceifar-me qual caule indefeso.

E então sei e sinto que uma mulher não pode morrer sem primeiro florir.

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