«No te quiero así, yo te quiero viva, burra, y date cuenta que te estoy hablando del linguaje mismo del cariño y la confianza – y todo eso, carajo, está del lado de la vida y no de la muerte. Quiero outra carta tuya, pronto, una carta tuya. Eso outro también es vos, lo sé, pero no es todo y demás no es lo mejor de vos. Salir por esa puerta es falso en tu caso, lo siento como si se tratara de mí mesmo. El poder poético es tuyo, lo sabes, lo sabemos todos los que te leemos; y ya no vivimos los tempos en que esse poder era el antagonista frente a la vida, y está el verdugo del poeta. Los verdugos, hoy, matan otra cosa que poetas, ya no queda ni siqueira esse privilegio imperial, queridíssima. Yo te reclamo, no humildad, no obsecuencia, sino enlace con esto que nos envuleve a todos, llámale la luz o César Vallejo o el cine japonês: un pulso sobre la tierra, alegre o triste, pero no un silencio de renuncia voluntaria. Sólo te acepto viva, sólo te quiero Alejandra.» (Julio Cortázar).
Qué haré con el miedo?
Que faremos com o medo, querida Alejandra?
Penso em ti, penso em nós, quando me reclino no sofá, estrangulada
pelas horas indomadas. Afasto a gata e encosto a mão ao meu sexo, sinto-o
pulsar. E sei que ainda pertenço à vida.
Porque é que não partimos com os pássaros, ainda que em voos rasantes?
Porque insistimos nas palavras que comandam a noite e mancham a esperança alva?
Também no meu peito se fossilizou a desespero mas a literatura não pode servir apenas
para perder a inocência, pode também ensinar-nos a suspender a descrença como
Coleridge nos ensinou. Pretendamos que assim seja.
Assim, como Gilgamesh: esquece a morte e segue-me.
Ou assim: mi corazón abre la
ventana, vida aqui estoy.
Olvidemos a morte e as suas estranhas mãos e pensemos nesse verão
longínquo, em que confundimos o céu com o nosso amor fervente, súplice de marés
e faróis.
Noche que te vas, buenas noches.
Não negues a mania de viver que te arrasta, Alejandra, ainda que escolhas
apelidá-la de lúgubre. Lá fora está sol, não te vistas de cinzas. A última
inocência não é o apeadeiro final, podemos ainda ingressar na «escola da
ingenuidade» e usar a imaginação poética para nos salvarmos.
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