«Portanto, meu excelente amigo, disse o Senhor C…, está agora
na posse de tudo o que é necessário para me compreender. Vemos que, no mundo
orgânico, à medida que a reflexão se torna mais obscura e mais fraca, a graciosidade
se apresenta cada vez mais radiosa e soberana. – Porém, tal como a intersecção
de duas linhas por um lado de um ponto, depois de percorrido o trajecto pelo
infinito, se volta a verificar subitamente pelo outro lado do mesmo ponto, ou
como a imagem do espelho côncavo, depois de se afastar até ao infinito, volta
subitamente a surgir perante nós: assim também a graciosidade, depois de, por
assim dizer, o conhecimento ter atravessado o infinito, volta a apresentar-se;
e de tal maneira que surge em simultâneo e de modo mais puro naquela estrutura
de um corpo humano que ou não possui consciência alguma, ou possui uma
consciência infinita, i.e. ou no
boneco articulado, ou num deus.
Sendo assim, disse eu, um pouco abstraído, teríamos de voltar
a comer da Árvore do Conhecimento para regressarmos ao estado da inocência.
Sem dúvida, respondeu ele; esse é o último capítulo da
história do mundo.»
Heinrich von Kleist
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