quinta-feira, 16 de abril de 2020

oração da tarde

ORAISON DU SOIR


Je vis assis, tel qu'un ange aux mains d'un barbier
Empoignant une chope à fortes cannelures,
L'hypogastre et le col cambrés, une Gambier
Aux dents, sous l'air gonflé d'impalpables voilures.

Tels que les excréments chauds d'un vieux colombier,
Mille Rêves en moi font de douces brûlures:
Puis par instants mon coeur triste est comme un aubier
Qu'ensanglante l'or jeune et sombre des coulures.

Puis, quand j'ai ravalé mes rêves avec soin,
Je me tourne, ayant bu trente ou quarante chopes,
Et me recueille, pour lâcher l'âcre besoin:

Doux comme le Seigneur du cèdre et des hyssopes,
Je pisse vers les cieux bruns, très haut et très loin,
Avec l'assentiment des grands héliotropes.


Arthur Rimbaud


------//------


ORAÇÃO DA TARDE


Vivo abancado como um Anjo no barbeiro,
De cerveja empunhando as grossas caneluras,
Hipogastro e pescoço arqueado, sobranceiro,
Sob o pesado céu de ténues velaturas.

Tal o excremento quente aquece o galinheiro,
Mil sonhos em mim fazem doces queimaduras.
Meu terno coração escorre como um balseiro
Ensanguentado no ouro das emborcaduras.

E quando os Sonhos meus engoli com cuidado,
Depois que já bebi trinta ou quarenta chopes,
Recolho-me a aliviar seu acre resultado:

Doce como o Senhor do cedro e dos hissopes.
Aponto ao pardo céu meu mijo de alto arqueado
- E acenam-me que sim os grãos heliotrópios.


Tradução Jorge de Sena

Sem comentários: