domingo, 18 de abril de 2021

Juan Rulfo




"Romance misterioso, místico, sussurrante, murmurante, que muge e mudo, PEDRO PÁRAMO concentra assim todas as sonoridades mortas do mito. Mito e morte: estes são os dois «emes» que coroam todos os outros antes de coroarem o próprio nome do México: romance mexicano essencial, insuperado e insuperável, PEDRO PÁRAMO resume-se no espectro do nosso país: um murmúrio de pó do outro lado do rio da morte.

(...)

Rulfo, como Job no sonho da tumba, escreve um romance poemático no qual não cabe fazer a distinção entre hypnos e thanatos, entre o sonho e a morte. A educação de Juan Preciado, que não é uma educação sentimental nem um Bildungsroman, mas sim um Totensroman, um romance para a morte e um Angsttraum, um sonho para o medo, consistiu em viajar até à origem para chegar ao pai e descobrir que o pai é história e a história é injusta e que o pai, o chefe, o conquistador, deve morrer para ingressar no eterno presente, que é a morte."

Carlos Fuentes

Li PEDRO PÁRAMO há uns anos. Era Verão - a estação que melhor casa com a morte, segundo De Quincey - e eu passava alguns dias em Alter do Chão, terra de cavalos e um pequeno castelo. No centro da vila, de dia ou de noite, muito raramente se avistava vivalma; de maneira que, curiosamente, no meu espírito também se criou uma colusão simbólica e sempre que penso em Comala, a primeira imagem que me vem é a dessa vila alentejana.

É um livro difícil e árido, uma descida aos infernos. Lê-se como quem sonha um pesadelo ou como quem atravessa um deserto delirante, sem réstia de água ou esperança. A mensagem subconsciente que nos traz é tanto metafísica como política (a mãe é essa terra colonizada, massacrada, essa madre ofendida que está tão presente no calão da América Latina). E sei que se trata de um livro fundador para o realismo mágico que tanto aprecio, mas não posso dizer que tenha entrado no meu panteão. Mais tarde, vim a comprar na Cidade do México a antologia EL LLANO EN LLAMAS e posso dizer que prefiro o Rulfo contista.  Digo-o com pena pois sei que há em PEDRO PÁRAMO um arquétipo poderoso com o qual me poderia relacionar mas falhei o encontro. Culpa dos banhos e festas de aldeia?

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