Não sei quando foi que começou ou se aconteceu de súbito. As grandes rupturas penetram na nossa cabeça, em segredo e sem margem para falhas, não se fazem anunciar, acontecem e pronto já está. Sei apenas que algo – uma mola, um elo, um pilar ou, então, outra coisa qualquer cuja natureza desconheço – se partiu dentro de mim, de modo irrecuperável. No lugar dessa perda, desse abandono, dessa quebra fatal, ficou apenas a solidão instalada com toda a pompa e circunstância na sua certeza inquestionável. Faz frio aqui. Arrefeceu tão de repente e todas as dádivas com que podia aquecer a minha alma se retiraram.
Um palco vazio, no centro, uma boneca de trapos abandonada, que não sabe seduzir sem jogar, sem arriscar a sua vida. Toda uma vida na corda bamba a saborear o risco da vertigem. Sabia que algum dia havia de cair, só não sabia para que lado – continuo sem saber. Sei apenas que a minha alma está em queda livre, vai pagar o preço da liberdade, sem laços nem amarras que a amparem. E de repente, um súbito desejo de assentar, de ser estável, de ser doce. Tarde demais.
Ontem olhei uma criança nos olhos e ela começou a chorar. Não sei o que ela viu em mim mas não pude evitar. Talvez tenha visto o colapso da esperança. Comecei a chorar juntamente com ela, num pranto progressivo de desespero. Em redor, os ditos adultos, olhavam a cena com alguma estupefacção. A menina correu para o abrigo das pernas da mãe, que rapidamente a acolheu e tratou com leviandade a sua tristeza. Eu, fiquei ali sozinha, sem ninguém para me consolar, a chorar mais calmamente.
Arrefece. O sono e a indiferença invadem as ruas de cada cidade, atravessam como um vento subtil as divisões de todas as casas, imiscuem-se como uma mulher delambida em todos os recantos da alma humana.
Arrefece e nenhuma fantasia, paixão ou amor resta na paisagem deserta. Deixo-te ir na corrente do esquecimento. Abandono-te antes que me abandones. Foi sempre assim. Deito, com alguma reticência, algumas lágrimas pela tua partida. Porque levas algo meu na tormenta que te arrasta. Algo que não sei se é irrecuperável.
Arrefece. Porque nunca estiveste aqui. Foi tudo imaginação minha. E se nos voltarmos a encontrar, o que é possível, vou devolver-te o gelo que instalaste em mim. Vou devolvê-lo como uma bofetada subtil, para te magoar um pouco. Foi sempre assim.
Arrefece. Lá fora uma manhã de sábado pouco credível. Aqui, neste recanto solitário, apenas uma pergunta: será alguma vez diferente? Não pretendo abdicar da minha potente natureza feminina para suportar as tuas incertezas e inseguranças. Quero um homem a meu lado, sem medo de mim, sem ilusões, que me veja realmente. No entanto, custa-me sacrificar a imagem que criei de ti. Mas afinal os ídolos servem para isso mesmo – para derramar o sangue. O nosso, claro. Foi sempre assim.
Um palco vazio, no centro, uma boneca de trapos abandonada, que não sabe seduzir sem jogar, sem arriscar a sua vida. Toda uma vida na corda bamba a saborear o risco da vertigem. Sabia que algum dia havia de cair, só não sabia para que lado – continuo sem saber. Sei apenas que a minha alma está em queda livre, vai pagar o preço da liberdade, sem laços nem amarras que a amparem. E de repente, um súbito desejo de assentar, de ser estável, de ser doce. Tarde demais.
Ontem olhei uma criança nos olhos e ela começou a chorar. Não sei o que ela viu em mim mas não pude evitar. Talvez tenha visto o colapso da esperança. Comecei a chorar juntamente com ela, num pranto progressivo de desespero. Em redor, os ditos adultos, olhavam a cena com alguma estupefacção. A menina correu para o abrigo das pernas da mãe, que rapidamente a acolheu e tratou com leviandade a sua tristeza. Eu, fiquei ali sozinha, sem ninguém para me consolar, a chorar mais calmamente.
Arrefece. O sono e a indiferença invadem as ruas de cada cidade, atravessam como um vento subtil as divisões de todas as casas, imiscuem-se como uma mulher delambida em todos os recantos da alma humana.
Arrefece e nenhuma fantasia, paixão ou amor resta na paisagem deserta. Deixo-te ir na corrente do esquecimento. Abandono-te antes que me abandones. Foi sempre assim. Deito, com alguma reticência, algumas lágrimas pela tua partida. Porque levas algo meu na tormenta que te arrasta. Algo que não sei se é irrecuperável.
Arrefece. Porque nunca estiveste aqui. Foi tudo imaginação minha. E se nos voltarmos a encontrar, o que é possível, vou devolver-te o gelo que instalaste em mim. Vou devolvê-lo como uma bofetada subtil, para te magoar um pouco. Foi sempre assim.
Arrefece. Lá fora uma manhã de sábado pouco credível. Aqui, neste recanto solitário, apenas uma pergunta: será alguma vez diferente? Não pretendo abdicar da minha potente natureza feminina para suportar as tuas incertezas e inseguranças. Quero um homem a meu lado, sem medo de mim, sem ilusões, que me veja realmente. No entanto, custa-me sacrificar a imagem que criei de ti. Mas afinal os ídolos servem para isso mesmo – para derramar o sangue. O nosso, claro. Foi sempre assim.
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