Adorei este livro de Zadie Smith – foi o primeiro que li dela e fiquei encantada com a fluidez dos diálogos hiper-realistas e a inteligente e perspicaz descrição da dinâmica psicótica das famílias. O livro aborda tantas questões que me é impossível escrever tudo o que haveria a dizer sobre este romance, por isso opto pelo silêncio de uma citação, escolhida pela óbvia comunhão.
“Até agora, uma coisa era certa: Claire Malcom era viciada em auto-sabotagem. Segundo um padrão tão profundamente mergulhado na sua vida que Byford suspeitava que ele tivesse origem no início da infância, Claire sabotava compulsivamente todas as possibilidades de ter uma felicidade pessoal. Parecia estar convencida de que não era felicidade o que merecia (…) Tinha chegado a um ponto de alegria pessoal. Por fim, aos cinquenta e três. E, portanto, naturalmente que era o momento perfeito para sabotar a sua própria vida. Com esta finalidade, tinha dado início a um caso com Howard Belsey, um dos seus mais antigos amigos. Um homem por quem não sentia desejo sexual de espécie alguma (…) Toda aquela situação era perversa, tanto mais por ela não a poder defender, nem sequer perante si mesma (…). No momento do seu maior compromisso emocional, tinha intervido no casamento mais bem sucedido que conhecia. (…) Tal como explicou o Dr. Byford, ela era realmente a vítima de um transtorno perverso e particularmente feminino: sentia uma coisa e fazia outra. Era uma estranha para si mesma.
“Até agora, uma coisa era certa: Claire Malcom era viciada em auto-sabotagem. Segundo um padrão tão profundamente mergulhado na sua vida que Byford suspeitava que ele tivesse origem no início da infância, Claire sabotava compulsivamente todas as possibilidades de ter uma felicidade pessoal. Parecia estar convencida de que não era felicidade o que merecia (…) Tinha chegado a um ponto de alegria pessoal. Por fim, aos cinquenta e três. E, portanto, naturalmente que era o momento perfeito para sabotar a sua própria vida. Com esta finalidade, tinha dado início a um caso com Howard Belsey, um dos seus mais antigos amigos. Um homem por quem não sentia desejo sexual de espécie alguma (…) Toda aquela situação era perversa, tanto mais por ela não a poder defender, nem sequer perante si mesma (…). No momento do seu maior compromisso emocional, tinha intervido no casamento mais bem sucedido que conhecia. (…) Tal como explicou o Dr. Byford, ela era realmente a vítima de um transtorno perverso e particularmente feminino: sentia uma coisa e fazia outra. Era uma estranha para si mesma.
E ainda seriam assim, pensou ela – estas novas raparigas, esta nova geração? Ainda sentiriam uma coisa fazendo outra? Ainda quereriam apenas ser queridas? Ainda seriam objectos de desejo em vez de – como Howard diria – objectos desejantes? Se pensasse nas raparigas que estavam sentadas de pernas cruzadas com ela, nesta cave, em Zora, na sua frente, nas raparigas iradas que gritavam a sua poesia no palco – não, não via nenhuma alteração importante. Continuavam famintas, continuavam a ler revistas femininas que odiavam explicitamente as mulheres, ainda se cortavam com pequenas facas em lugares que julgavam não poder ser vistos, ainda fingiam os seus orgasmos com homens de quem não gostavam, ainda mentiam a toda a gente sobre todas as coisas.”
Sim, Claire, penso que pouco mudou desde os anos 60: continuamos mulherzinhas em busca de afecto, encurraladas entre o desejo asfixiante de agradar e a imperatividade da afirmação e independência. Sem submissão. Sem entrega. Os tempos de cólera que correm são mais difíceis para a condição feminina: a revolução femininista dos anos 60 não passou de um acumular de tarefas para a mulher - uma esposa dedicada, uma mãe irrepreensível, uma profissional competitiva e bem-sucedida, uma amante obrigada ao orgasmo - em vez de uma efectiva promoção da mulher. Em suma, estamos bem fodidas, mas não como pretendiam as sufragistas quando decidiraram queimar os soutiens. A mim, os soutiens nunca me incomodaram.
1 comentário:
... a mim também não.
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