terça-feira, 19 de maio de 2009

Arquipélagos Aquáticos



«Um homem pode estar doente, mais gravemente, ainda do que este, e ter o seu momento de felicidade, qual seja, tão só o de se sentir como uma ilha deserta que uma ave sobrevoou, de passagem apenas, trazida e levada pelo inconstante vento.»


Somos ilhas à deriva, atravessadas por breves momentos pelo encontro entre dois seres. O resto é apenas a memória desse momento excepcional de luz e beleza. E a procura e esperança na possibilidade de repetição. Recordarei sempre uma tarde de tempestade e trovoada, em que três amigos se abrigaram num toldo perto da escola onde me deseduquei com afinco, e fomos um. Completamente encharcados pela chuva e pelo encontro sublime que ameaçava rasgar os nossos peitos e cortar definitivamente a condição imposta de ilhéu. Era cedo demais então para saber que um dia poderia ser tarde demais. Não conhecíamos as armadilhas do tempo nem a raridade e brevidade dos arquipélagos.


Convosco aprendi também a delícia da palavra amizade e reencontro e sempre que vos olho, relembro e revivo o momento aquático e sublime daquela tarde de tempestade. Quando morrer, se houver um flashback, esse momento estará lá certamente.

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