terça-feira, 18 de setembro de 2012

um hino à noite

“O que é que, de repente, pleno de pressentimentos, brota debaixo do coração e sorve a doce aragem da melancolia? Também em nós te comprazes, obscura Noite. O que é que tu guardas debaixo do teu manto, que me toca a alma com uma força invisível? Um bálsamo precioso goteja da tua mão, de um molho de papoilas. Elevas as pesadas asas do nosso ânimo. Sentimo-nos obscuramente, inexprimivelmente comovidos (…). Tão pobre e tão pueril me parece agora a luz – que júbilo e que benção, ao despedir-se o dia – Assim, só porque a Noite aparta de ti seus servidores, semeaste na lonjura do espaço as esferas luminosas, para que testemunhassem da tua omnipresença – do teu regresso – no tempo do teu afastamento. Mais celestes do que aquelas estrelas cintilantes nos parecem os olhos infinitos que a Noite em nós abre (…). Glória à rainha do mundo, à grande mensageira de mundos sagrados, a do amor extasiado – é ela que te envia até mim – doce amada – amável sol da noite – eis que estou desperto – porque sou teu e sou meu – revelaste-me a Noite como Vida – tornaste-me humano – devora de ardor espiritual o meu corpo para que, etéreo, eu possa misturar-me contigo mais intimamente, e seja então a nossa noite de bodas.”


Novalis, Hinos à Noite

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