“Rufa o tambor: tan-tarantan-tan; despejam-se no
pátio presos acorrentados e não acorrentados, e Serguiêi, e Fiona, e Sónietka,
e Catierina Lvovna, e um raskólnik acorrentado a um jid, e um polonês na mesma corrente que um
tártaro.
Todos se amontoaram, depois se emparelharam de
qualquer jeito e partiram.
O mais desolador dos quadros: um punhado de
pessoas, arrancadas do mundo e privadas de qualquer sombra de esperança em um
futuro melhor, afunda na lama negra e fria de uma estrada de terra batida. Tudo
ao redor é de uma feiura que chega ao horror: uma lama sem fim, um céu
cinzento, salgueiros desfolhados e molhados, e em seus galhos abertos uma
gralha cinzenta eriçando as penas. O vento ora geme, ora se enfurece, ora uiva
e brame.
Nesses sons infernais, que dilaceram a alma e
completam o horror do quadro, ecoam os conselhos da mulher do Jó bíblico: “Amaldiçoa
o dia do teu nascimento e morre”.
Aquele que não quer dar ouvidos a semelhantes
palavras, que não acalenta a ideia da morte nem mesmo nessa situação
deplorável, mas a teme, esse precisa tentar abafar essas vozes ululantes com
algo ainda mais horrendo que elas. Isso o homem simples compreende
perfeitamente: então ele dá asas a toda a sua simplicidade animal, começa a
fazer bobagens, a zombar de si mesmo, das pessoas, dos sentimentos. Já sem ser
especialmente delicado, torna-se excepcionalmente mau.”
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