"Escrever é defender a solidão em que se está; é uma acção que brota somente de um isolamento afectivo, mas de um isolamento comunicável, em que exactamente, pela distância de todas as coisas concretas, se torna possível um descobrimento de relações entre elas.
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E dessa derrota. derrota íntima, humana, não de um homem particular, mas do ser humano, nasce a exigência de escrever. Escreve-se para reconquistar a derrota sofrida sempre que falámos longamente.
E a vitória somente pode dar-se ali onde se sofreu a derrota, nas mesmas palavras.
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Salvar as palavras da sua falsa pompa, da sua vacuidade, endurecendo-as, forjando-as, perduravelmente, é o que é procurado, mesmo sem o saber, por quem deveras escreve.
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Que é o que quer dizer o escritor e para quê dizê-lo? Para quê e para quem?
Quer dizer o segredo; o que não pode dizer-se com a voz por ser demasiado verdade; as grandes verdades não costumam dizer-se a falar. A verdade do que se passa no secreto seio do tempo é o silêncio das vidas, e que não pode dizer-se. «Há coisas que não podem dizer-se», é verdade. Mas isto que não pode dizer-se é o que tem de escrever-se.
Descobrir o segredo e comunicá-lo, são os dois acicates que movem o escritor.
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Na sua solidão descobre-se ao escritor o segredo, não completamente, mas num devir progressivo.
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A verdade precisa de um grande vazio, de um silêncio onde possa alojar-se, sem que nenhuma outra presença se misture com a sua, desfigurando-a.
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Só dá a liberdade quem é livre.
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