"(...) de uma coisa estou certo: o ser humano tem uma necessidade de consolo impossível de satisfazer.
Como posso, assim, viver a felicidade?
Procuro o que me pode consolar como o caçador persegue a caça, atirando sem hesitar sempre que algo se mexe na floresta. Quase sempre atinjo o vazio, mas, de tempos a tempos, não deixa de me tombar aos pés uma presa. Célere, corro a apoderar-me dela, pois sei quão fugaz é o consolo, sopro dum vento que mal sobe pela árvore.
Debruço-me.
Tenho-a! Mas tenho o quê, entre estes dedos?
Se sou solitário - uma mulher amada, um desditoso companheiro de viagem. Se sou poeta ou prisioneiro - um arco de palavras que com assombro reteso, uma súbita suspeita de liberdade. Se sou ameaçado pela morte ou pelo mar - um animal vivo e quente, coração que pulsa sarcástico; um recife de granito bem sólido.
Sendo tudo isso, é sempre escasso o que tenho!
As formas de consolo: se procuro umas, outras há que me perseguem sem que as convoque. Sussurram, odiosas. Enchem-me o quarto de murmúrios:
O prazer: - «Entrega-te sem restrições»!
O talento: - «Usa-me tão mal como a ti mesmo»!
A minha sede de gozo: - «Só os gulosos sabem viver»!
A solidão: - «Despreza os homens»!
Este desejo de morte: - «Fere, Mata»!
Stig Dagerman, A Nossa Necessidade de Consolo é Impossível de Satisfazer
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