«Mas nada disto consegue dar conta do laço invisível
pelo qual desde o início nos sentimos unidos. Podíamos até ser profundamente
diferentes, que eu não sentia menos que qualquer coisa de fundamental nos era
comum, uma espécie de ferida originária – há pouco eu falava de “experiência
fundadora”: a experiência da insegurança. A natureza desta não era a mesma em
ti e em mim. Pouco importa: para ti e para mim ela significava que não tínhamos
no mundo um lugar assegurado. Teríamos apenas aquele que construíssemos.
(…)
Desde a tua primeira infância que viveste na
insegurança (…). Estavas condenada a ser forte porque todo o teu universo era
precário. Sempre te senti a força e, ao mesmo tempo, a fragilidade subjacente. Eu
gostava da tua fragilidade superada, admirava a tua força frágil. Éramos ambos
filhos da precariedade e do conflito. Éramos feitos para nos protegermos
mutuamente contra uma coisa e outra. Tínhamos necessidade de criar juntos, um
pelo outro, o lugar no mundo que nos foi originariamente negado. Mas era
necessário, para isso, que o nosso amor fosse também um pacto para a vida.
(…)
Vigio a tua respiração, a minha mão aflora-te. Cada
um de nós gostaria de não sobreviver à morte do outro. Muitas vezes dissemos um
ao outro que, no caso impossível de termos uma segunda vida, quereríamos passá-la
juntos.»
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