domingo, 8 de novembro de 2015

História de um amor


«Mas nada disto consegue dar conta do laço invisível pelo qual desde o início nos sentimos unidos. Podíamos até ser profundamente diferentes, que eu não sentia menos que qualquer coisa de fundamental nos era comum, uma espécie de ferida originária – há pouco eu falava de “experiência fundadora”: a experiência da insegurança. A natureza desta não era a mesma em ti e em mim. Pouco importa: para ti e para mim ela significava que não tínhamos no mundo um lugar assegurado. Teríamos apenas aquele que construíssemos.

(…)

Desde a tua primeira infância que viveste na insegurança (…). Estavas condenada a ser forte porque todo o teu universo era precário. Sempre te senti a força e, ao mesmo tempo, a fragilidade subjacente. Eu gostava da tua fragilidade superada, admirava a tua força frágil. Éramos ambos filhos da precariedade e do conflito. Éramos feitos para nos protegermos mutuamente contra uma coisa e outra. Tínhamos necessidade de criar juntos, um pelo outro, o lugar no mundo que nos foi originariamente negado. Mas era necessário, para isso, que o nosso amor fosse também um pacto para a vida.

(…)


Vigio a tua respiração, a minha mão aflora-te. Cada um de nós gostaria de não sobreviver à morte do outro. Muitas vezes dissemos um ao outro que, no caso impossível de termos uma segunda vida, quereríamos passá-la juntos.»


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