« (…) Consegui ver que te erguiam uma cruz, não naquele pátio por baixo, mas no ilimitado prado florido, onde me encontrava reclinada nos braços do meu amante, com todos os outros casais. Conseguia divisar-te vagueando só e sem guarda por vielas antigas, contudo, sabia que o teu caminho estava traçado e não havia fuga possível. Caminhavas agora através do atalho da floresta. Eu aguardava-te expectante, mas sem especial simpatia. O teu corpo estava coberto de vergões, mas já não sangrava. À medida que subias, o atalho alargava-se e a floresta recuava de ambos os lados. Encontravas-te agora ao fundo, no prado, a uma distância inacreditavelmente grande. No entanto, saudaste-me com um olhar sorridente, parecendo quereres dizer-me que havias satisfeito os meus desejos e que trazias tudo o que precisava: roupa, sapatos, jóias. Mas eu considerei a tua conduta extremamente grotesca e absurda e senti-me tentada a rir na tua cara com desdém – tudo porque, por fidelidade a mim, havias recusado desposar a princesa, suportado torturas, e agora cambaleavas até aqui para sofreres uma morte atroz. Corri para ti e também apressaste o passo – comecei a levitar e tu flutuavas no ar. Mas, de súbito, perdemo-nos um do outro e dei-me conta que nos cruzáramos sem nos encontrarmos. Então, desejei que ao menos ouvisses as minhas risadas enquanto te pregavam na cruz. Desatei a rir tão alto e tão estridentemente quanto podia. Era esse o riso, Fridolin, que soltava quando acordei.»
domingo, 23 de janeiro de 2011
A HISTÓRIA DE UM SONHO
« (…) Consegui ver que te erguiam uma cruz, não naquele pátio por baixo, mas no ilimitado prado florido, onde me encontrava reclinada nos braços do meu amante, com todos os outros casais. Conseguia divisar-te vagueando só e sem guarda por vielas antigas, contudo, sabia que o teu caminho estava traçado e não havia fuga possível. Caminhavas agora através do atalho da floresta. Eu aguardava-te expectante, mas sem especial simpatia. O teu corpo estava coberto de vergões, mas já não sangrava. À medida que subias, o atalho alargava-se e a floresta recuava de ambos os lados. Encontravas-te agora ao fundo, no prado, a uma distância inacreditavelmente grande. No entanto, saudaste-me com um olhar sorridente, parecendo quereres dizer-me que havias satisfeito os meus desejos e que trazias tudo o que precisava: roupa, sapatos, jóias. Mas eu considerei a tua conduta extremamente grotesca e absurda e senti-me tentada a rir na tua cara com desdém – tudo porque, por fidelidade a mim, havias recusado desposar a princesa, suportado torturas, e agora cambaleavas até aqui para sofreres uma morte atroz. Corri para ti e também apressaste o passo – comecei a levitar e tu flutuavas no ar. Mas, de súbito, perdemo-nos um do outro e dei-me conta que nos cruzáramos sem nos encontrarmos. Então, desejei que ao menos ouvisses as minhas risadas enquanto te pregavam na cruz. Desatei a rir tão alto e tão estridentemente quanto podia. Era esse o riso, Fridolin, que soltava quando acordei.»
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