Duras afirmou uma vez que, se não houvesse o amor e o mar, não haveria romances. É isso que temos em Olhos Azuis, Cabelos Negros: o mar, um casal, silêncio e desespero.
«Foi na estrada nacional de madrugada depois do segundo café ter fechado que ele disse que procurava uma mulher jovem para dormir perto dele durante algum tempo, porque tinha medo da loucura. Disse que queria pagar a essa mulher, era essa a sua ideia, que era preciso pagar às mulheres para elas impedirem os homens de morrer, de enlouquecer. Tinha chorado mais, tão completamente extenuado de cansaço como estava. O Verão metia-lhe medo.»
O homem nunca fez amor com uma mulher: repugna-lhe a «coisa interior».
«Ela diz: Essa dificuldade que sente, sempre esteve aqui na minha vida, inscrita no mais profundo do meu prazer com os outros homens.
Ele pergunta-lhe de que fala ela. Ela fala dessa impossibilidade, dessa repugnância que ela lhe inspira. Diz-lhe que partilha com ele essa repugnância que sente por si própria. E depois diz que não, não é a repugnância. A repugnância é inventada.»
«Ela olha à sua volta no quarto, põe-se a chorar. Por causa daquele amor, diz ela. Pára outra vez. Diz que é terrível viver como eles vivem (…) Que a viver como eles vivem, mais vale morrer. Volta a parar em frente dele, olha-o, chora, repete: Por causa deste amor que se apoderou de tudo e que é impossível.
Ela pára. Ele ouviu-a. Não se ri. Pergunta:
- Está a falar de quê?
Ela sente-se confusa, diz:
- Falei sem pensar, estou muito cansada.
Diz: Nunca me coloquei essa questão.
Ele voltou a levantar-se. Ergue-a encostado a ele. Beija-lhe a boca. O desejo, naquela derrota, fá-los tremer aos dois.
Separam-se. Ele diz:
- Eu não sabia a este ponto.
(…)
O beijo transformou-se no prazer. Ocorreu. Dominou a morte, o horror da ideia. Não veio depois nenhum outro beijo. Ocupa o desejo inteiro, é, por si só, o seu deserto e a sua imensidade, o seu espírito e o seu corpo.»
« - Talvez o amor possa viver-se assim de uma maneira horrível.»
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