«A arte é o meu medo. É dele que eu a extraio.»
«Eu era sentimental em muitas coisas: a uns sapatos de mulher sob a cama; a um gancho abandonado sobre a cómoda; ao modo de dizer «vou fazer chichi..»; fitas de cabelo; descer a avenida com elas à uma e meia da tarde, apenas duas pessoas a caminhar; as longas noites em que se bebe, se fuma e se conversa; as discussões; pensar no suicídio; comermos juntos e sentirmo-nos bem; as brincadeiras e os risos absurdos; sentir milagres no ar; estarmos juntos dentro de um carro estacionado; comparar antigos amores às três da manhã; dizerem-nos que ressonamos, ouvir o ressonar dela; mães, filhas, filhos, gatos, cães; por vezes a morte, por vezes o divórcio, mas continuar sempre; ler o jornal sozinho num quiosque e sentir náuseas por ela estar casada com um dentista com um Q.I. de 95; corridas de cavalos, os parques, ou piqueniques no parque; até cadeias; os sinistros amigos dela, os nossos amigos sinistros; os nossos copos e as danças dela; os teus engates; os engates dela; os comprimidos dela, as tuas fodas por fora e as dela; dormir juntos…» (pag. 227/228).
«Mulheres: gostava da cor das suas roupas; do modo como andavam; a crueldade de alguns rostos; de quando em quando, a beleza quase perfeita dum rosto, encantadoramente feminino. Elas tinham uma vantagem sobre nós: planeavam muito melhor a sua vida, eram muito mais organizadas. Enquanto os homens viam os jogos de futebol, bebiam uma cerveja ou jogavam bowling, elas, as mulheres, pensavam em nós, concentravam-se, perscrutavam, decidiam – aceitar-nos, rejeitar-nos, mudar-nos, matar-nos ou simplesmente viverem connosco. No fim de contas, isto tinha pouca importância; não interessava o que elas faziam, nós acabávamos na solidão e na loucura.» (pag. 241/242).
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