domingo, 8 de abril de 2012

PARA A SEREIA DO NEVOEIRO

Boca no espelho escondido,
joelho diante da coluna do orgulho,
mão com a barra da grade:

ofertai-vos as trevas,
dizei o meu nome,
guiai-me até elas.


DO AZUL, que ainda busca o seu olho, bebo eu em primeiro lugar.
Da marca do teu pé bebo eu e vejo:
rolas-me entre os dedos, pérola, e cresces!
Cresces como todos os que foram esquecidos.
Rolas: o granizo preto da melancolia
cai num lenço, todo branco de dizer adeus.



QUEM ARRANCA de noite o coração do peito deseja a rosa.
Pertencem-lhe a sua folha e o seu espinho.
A esse põe ela a luz no prato,
com o seu sopro enche-lhe os copos,
só para ele sussurram as sombras do amor.

Quem arranca de noite o coração do peito e o arremessa ao alto:
não falha o alvo,
apedreja a pedra,
a esse bate-lhe o sangue fora do relógio,
o tempo faz-lhe soar na mão a sua hora:
pode brincar com bolas mais bonitas
e falar de ti e de mim.
Paul Celan

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