“Dá-me algo lento e fino
como
uma faca nas costas
E se
nada tens para dar-me
dá-me
tudo o que te falta!
CARLOS
EDMUNDO DE ORY
(…)
Quero uma mulher assim,
de silêncios
venenosos, que me morda
o tendão
do ombro e da língua, e
abuse
de declarações de
guerra e paz,
vá para o inferno e
regresse
no meio de um mar de
boatos
exibindo gloriosos
arranhões,
e me arraste em jogos
de malícia,
me esconda o coração e
me deixe
doido dias inteiros
atrás de pistas
e coordenadas.
Não quero uma mulher
explicada,
prefiro o assombro.
Antes aturar
mistérios, teimas,
transes e jejuns,
mesmo às vezes a troça
e o desprezo,
e que quando se sinta
enfastiada
fuja sem aviso e se
feche parindo
a escuridão.
Que me adore e se
farte, me empurre
do alto das escadas, e
se ria perdidamente
ou chore e me asfixie
devagarinho
com os primeiros
cabelos que lhe
nasçam brancos. Quero
que até esse dia
em que se chegará
tristemente
para pedir-me a mão
logo depois
que o seu rosto se
retire para sempre
de todos os espelhos.
No fim, nem me importa
que nunca venha a
cruzar-se comigo,
que isto eventualmente
ainda seja eu
a roubar acessórios em
lojas
de senhora. Pelo menos
não será
uma coisa que se
explique nem alguém
que tenha a descortesia
de dizer por aí
que chegámos a um
entendimento.
Diogo Vaz Pinto
1 comentário:
Leio regularmente este belíssimo espaço. Permito-me sugerir que leias este conto http://www.novostalentosfnac.com/literatura/2012/post/view?id=7
e... se merecedor que votes.
manuel monteiro
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