sábado, 18 de junho de 2016

A papoila e o monge

VIDA MONÁSTICA

(...)
Os que se assemelham a nada
assemelham-se
a Deus
(...)
Deus apaga
o nosso rasto
como se apagasse uma vela
(...)
Primeiro dia de Primavera:
que distante me parece
o inverno
(...)
A noite escuta com a mesma indiferença
a toada solitária do monge
e a canção rouca das prostitutas
(...)
Debruçado na tarde
escuto o silvo sombrio da
solidão
(...)
Deus está vazio
de todas
as suas obras
(...)
Toda a noite o gelo tombou
com o ruído
dos sonhos quebrados
(...)
Perguntas quanto tempo deves rezar?
a papoila na encosta
é vermelha sempre
(...)
O verão
ensina a mesma prece
à papoila e ao monge
(...)

José Tolentino Mendonça

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