sábado, 18 de junho de 2016

«Deus te livre, leitor, de uma idéia fixa; antes um argueiro, antes uma trave no olho.»



«Até agora pude fazer-lhe compreender tudo... talvez apenas porque até esse momento eu me compreendi a mim mesmo... e, como médico, consegui sempre fazer um diagnóstico do meu próprio estado. Mas, a partir desse momento, fui assaltado como que pela febre... perdi completamente o domínio de mim próprio... ou antes, eu bem sabia que tudo quanto fazia era insensato, mas não podia ter mão em mim... Não me compreendia... não tinha senão uma idea fixa: atingir o meu fim... De resto, ouça: talvez, apesar de tudo, eu lhe consiga fazer compreender... O senhor sabe o que é o amok?
  Amok?... Creio recordar-me... é uma espécie de embriaguez... entre os malaios.
 – É mais do que embriaguez... é a loucura, uma espécie de raiva humana, literalemente falando... uma crise de monomania assassina e insensata, à qual uma intoxicação alcóolica não se pode comparar. Eu próprio, durante a minha permanência ali, estudei alguns casos  – quando se trata dos outros, a gente é sempre perspicaz e positiva  –  mas sem nunca poder descobrir o medonho segredo da sua origem... A causa é, sem dúvida, o clima, esta atmosfera densa e asfixiante que oprime os nervos, como uma trovoada, até que eles acabam por descarregar...» 

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