«Pelo contrário, para mim teria sido um esforço
enorme não pensar no assunto. A coisa mais fácil do mundo é pensar no que está
acontecendo com a gente. Você está lá, no hospital, pensando que vai morrer, e
não pensar sobre isso teria exigido de mim um desprendimento enorme (…). Olha,
o que eu quero é estar presente por inteiro na minha vida – ser quem você é de
verdade, contemporânea de si mesma na sua vida, dando plena atenção ao mundo,
que inclui você.
(…)
Uma
vez me disseram que você costumava ler um livro por dia.
Eu leio em excesso e de maneira muito descuidada.
Adoro ler, do mesmo modo que os outros gostam de ver televisão, e de certa
forma, eu adormeço assim. Se estou deprimida, abro um livro e me sinto melhor.
Como
escreveu Emily Dickinson: “Flores e livros, confortos da tristeza”.
Exacto. Ler é a minha diversão, a minha distracção,
meu consolo, meu pequeno suicídio. Quando não consigo suportar o mundo,
enrosco-me a um livro, e é como se uma nave espacial me afastasse de tudo.
(…)
O livro que me fez querer ser escritora foi Martin Eden, de Jack London – e tem um
suicídio no fim! (…) Comecei a ler quando tinha três anos. O primeiro romance
que me comoveu foi Os Miseráveis –
chorei, solucei, lamentei. Quando você é uma criança leitora, acaba lendo os
livros que estão pela casa. Lá pelos treze anos, li Mann, Joyce, Eliot, Kafka,
Gide – basicamente os europeus.
(…)
Tive sorte o bastante por ter um filho e ser casada
quando ainda era muito jovem. Já fiz isso, agora não preciso fazer mais. Mas
isso não é um exemplo. Escolhi não me casar mais, já tive um filho – então não
vou sentir falta dessa grandiosa experiência que é ser mãe – e decidi ter uma
vida autónoma, que é cheia de inseguranças, aborrecimentos, ansiedade,
frustrações e envolve longos períodos de castidade. Achei que era isso que eu
queria… mas isso não é um modelo, é apenas a minha própria solução, e só a
justifico para mim mesma por causa dos meus projectos de vida.
(…)
Existe hoje uma pobreza de espírito tão
desencorajadora em relação à alta arte moderna que não sinto vontade nenhuma de
entrar na briga escrevendo um ensaio. No final dos anos sessenta tive a
sensação de que a batalha estava vencida, mas foi uma vitória passageira.
Quando ouço alguém me dizer que não gosta de Dostoiévski porque ele é caótico
demais, digo “Espere aí!” Você poderia me dizer que o motivo disso é o facto de
as pessoas estarem cansadas e precisarem descansar um pouco. Mas eu me
pergunto: Por que elas deveriam descansar? [rindo]
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