“Estou sentado a ler um
poeta. Há muitas pessoas na sala, mas passam desapercebidas. Estão embrenhadas nos
livros. Por vezes movimentam-se nas páginas como quem está a dormir e se volta entre
dois sonhos. Ah, como é verdadeiramente bom estar entre pessoas que lêem. Porque
é que elas não são sempre assim? Podes aproximar-te de uma e tocar-lhe ao de leve:
ela nada sente. E se, quando te levantares, deres um leve empurrão ao vizinho do
lado e pedires desculpa, ele faz um gesto de assentimento para o lado de onde veio
a tua voz, o seu rosto vira-se para ti e não te vê, e tem o cabelo como o de alguém
que está a dormir. Como isto faz bem! E eu estou sentado e tenho um poeta. Que destino!”
Rainer Maria Rilke, As
Anotações de Malte Laurids Brigge
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