sábado, 29 de novembro de 2014

Céu estrelado em noite escura

Oferecem-me bilhete para o Mexefest e declino para ficar em casa enrolada na Poesía Completa de Alejandra Pizarnik. É resignação ou maturidade?

CIELO

mirando el cielo

me digo que es celeste desteñido (témpera
azul puro después de una ducha helada)

las nubes se mueven

pienso en tu rostro y en ti y en tus manos y
en el ruido de tu pluma y en ti
pero tu rostro no aparece en ninguna nube!
yo esperaba verlo adherido a ella como un
trozo de algodón enyodado dentro de tela adhesiva
sigo caminando

un cocktail mental embaldosa mi frente
no sé si pensar en el cielo o en ti
y si tirara una moneda? (cara tú seca cielo)
no! tu ser no se arriesga y
yo te deseo te de-se-o!
cielo trozo de cosmos cielo murciélago infinito
immutable como los ojos de mi amor

pensemos en los dos
los dos tú + cielo = mis galopantes sensaciones
biformes bicoloreadas bitremendas bilejanas
lejanas lejanas

lejos

sí amor estás lejos como el mosquito
sí! ese que persigue a una mosquita junto
al farol amarillosucio que vigia bajo el
cielo negrolimpio esta noche angustiosa llena de dualismos

domingo, 23 de novembro de 2014

e a noite roda


Passei os últimas noites de chuva entretida com a leitura de e a noite roda de alexandra lucas coelho. Foi uma leitura light, sem deslumbramentos maiores, que compensou sobretudo pelo tom delicado, a evocação de lugares distantes e por esse grande amor à literatura como forma de viagem. A história de amor narrada apoia-se em várias referências bibliográficas e os encontros carnais dos amantes compõem as partes mais bem conseguidas do livro.

"Mesmo no inverno, a pele do teu corpo é morena. Continuas a cheirar a sabonete, macio e a cheirar a sabonete, com um sexo grande e macio e a cheirar a sabonete, mesmo quando tenho a cara entre as tuas pernas, e a cabeça do teu sexo pulsa para a frente. O teu esperma é leve, só ligeiramente acre. A tua cara aparece e desaparece. Nem sempre nos vemos, talvez nem sempre tenhamos nome. Às vezes és só um quadril com sexo, pelos de um louro escuro por cima. Ou uma boca no meu sexo, caracóis grisalhos entre os meus dedos. Uma boca, uma língua, dentes na minha boca, na minha língua, dentes contra dentes. Uma mão no meu pescoço, dobrando-me para trás, para a frente. Uma mão que me agarra pelo cabelo com a um bicho. Duas mãos que me puxam para um corpo por trás do meu. E não sei quem sou nem quem és. Depois volto-me na cama, abro os olhos, a tua cara está lá no alto, entre os meus tornozelos, afogueada. Encostas o tronco às minhas pernas, o teu sexo entra de um golpe, eu rodo e rodo com ele dentro, mas os nossos olhos estão fixos, cada vez mais desesperados, como se tudo o que o corpo faz para chegar perto nunca chegasse."

"Noite num mosteiro, antes de descer à costa. Tacteio com todas as minhas extremidades e a matéria conflui desde o seu núcleo. Não tens a pele dura dos circuncidados. A cabeça do teu sexo nasce só para isto, cega e sensível a cada vez. Sento-me nela, afundo, desapareço. Sou o cimo onde tu bates, e bates, até à dissolução. Pequena morte, sim, porque a morte há de ser o fora da história, ausência de bagagem e de cronologia. Noite branca."

Além disso, dois versos no seu interior, decidem a minha próxima viagem: Alejandra Pizarnik.

Alguma vez, talvez, encontraremos refúgio na realidade verdadeira.
Entretanto posso dizer até que ponto sou contra?

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Hilda, meu amor



OBSCÉNICA - TEXTOS ERÓTICOS & GROTESCOS
LANÇAMENTO A 27 NOVEMBRO | PENSÃO AMOR | 19H

O que eu podia fazer com as mulheres além de foder? Quando eram cultas, simplesmente me enojavam. Não sei se alguns de vocês já foderam com mulher culta ou coisa que o valha. Olhares misteriosos, pequenas citações a cada instante, afagos desprezíveis de mãozinhas sabidas, intempestivos discursos sobre a transitoriedade dos prazeres. Uma delas, trintona, Flora, advogada que tinha um rabo brancão e a pele lisa igual à baga de jaca, citava Lucrécio enquanto me afagava os culhões e encostava nas bochechas translúcidas a minha caceta: ó Crasso (até aí é texto dela) e depois Lucrécio.

domingo, 16 de novembro de 2014

Crónicas do Fel de Amor


Ando há mais de 2 meses a evitar escrever sobre um livro: Crónicas do Mal de Amor, de Elena Ferrante. Elegi-o como próxima leitura numa tarde chuvosa da Feira do Livro de Lisboa, alheia a todo o mistério do seu pseudónimo autoral mas a leitura havia de se concretizar mais tarde, quando Agosto já agonizava em Lisboa.

Tenho andado a evitar escrever sobre o livro porque ele me derrubou por completo. Já há algum tempo que assumi como evidência o facto de sofrer da patologia da leitura identificatória; no entanto, nunca um livro me tinha atingido com uma pancada tão seca e impiedosa.

Olga, a personagem principal da novela Os Dias do Abandono, diz a certa altura: “E depois, gostava da escrita que nos faz debruçar a cada linha e olhar para baixo, sentindo a vertigem da profundidade, as trevas do inferno.” A frase aplica-se, com precisão afiada, à escrita de Elena Ferrante. A sua leitura deu-me um mal-estar físico, recordou-me a vertigem e pôs de novo o abismo a devolver-me o olhar. Sublinhei passagens que se aproximam quase literalmente de algumas entradas diarísticas minhas, dos meus pensamentos mais íntimos e temidos.

Como por exemplo: “Queria ter a certeza chã dos dias normais, embora soubesse bem demais que persistia no meu corpo um movimento frenético noutro sentido, um relâmpago, como se tivesse entrevisto no fundo de uma cova um horrível insecto venenoso e todas as partes de mim própria continuassem tomadas ainda de um impulso de recuo, agitando os braços, as mãos, escouceando. Tenho de reaprender – disse para comigo – o passo tranquilo dos que pensam saber para onde estão a ir e porquê.

Ou este diálogo: “ - Foi muito horrível? – perguntou-me ele, embaraçado.
- Sim.
- O que é que te aconteceu naquela noite?
- Tive uma reacção excessiva que destruiu a superfície das coisas.
- E depois?
- Caí.
- E onde é que foste parar?
- A parte nenhuma. Não havia profundidade, não havia precipício. Não havia nada.
Abraçou-me, manteve-me apertada contra o seu corpo por um momento, sem dizer uma palavra. Estava a tentar comunicar-me em silêncio que sabia, graças a um dom misterioso que lhe era próprio, tornar o sentido mais forte, inventar um sentimento de plenitude e de alegria. Fingi acreditar e foi por isso que, ao longo dos dias e meses que depois vieram, nos amámos devagar, serenamente.

Tanto a segunda como a terceira novela, A Filha Obscura, terminam com uma fresta de luz mas é claro que ambas as personagens femininas são ainda cativas da obscuridade que as engoliu e que os únicos estratagemas que têm para lidar com o alçapão por onde se esvaiu o real são a mentira e o fingimento.

Então, passa», disse ela.
«O quê.»
Fez um gesto para indicar uma vertigem, mas também uma sensação de náusea.
«O desnorteamento.»
Lembrei-me da minha mãe, disse:
«A minha mãe usava outra palavra, chamava-lhe caqueirada.»
Reconheceu o sentimento na palavra, fez um olhar de rapariguinha assustada.
«É verdade, escaqueira-te o coração: não consegues suportar estar contigo mesma e tens certos pensamentos que não podes dizer.»
Depois voltou a perguntar-me, desta vez com a expressão meiga de quem procura uma carícia:
«Mas mesmo assim, passa.»
Pensei que nem Bianca nem Marta tinham alguma vez experimentado fazer-me perguntas como as de Nina, com o tom insistente em que ela me estava a fazê-las. Procurei as palavras para lhe mentir dizendo a verdade.
«A minha mãe fez disso uma doença. Mas ela era de outro tempo. Hoje pode-se viver bem, mesmo se não passar.»

Estou exactamente nesse ponto. A tentar dar fé no real e a habitar com convicção a planura dos dias. Uns dias consigo, outros não. Gosto de acreditar que sucederei na minha busca e que o meu corpo tornará a ser casa. E então penso em Ulisses e lembro-me das palavras de Claudio Magris: “Talvez a minha odisseia literária seja aquela que conta a viagem ao nada e o respectivo regresso.

Com essas palavras em mente, escolhi a minha odisseia para os tempos de chuva: A Divina Comédia. E de novo, logo nas primeiras linhas, o espelho identificatório:

         “No meio do caminho em nossa vida,
              eu me encontrei por uma selva escura
     porque a direita via era perdida.
Ah, só dizer o que era é cousa dura
     esta selva selvagem, aspra e forte,
     que de temor renova à mente a agrura!
Tão amarga é, que pouco mais é morte;
     mas, por tratar do bem que eu nela achei,
     direi mais cousas vistas de tal sorte.
Nem saberei dizer como é que entrei,
     tão grande era o meu sono no momento
     em que a via veraz abandonei.”


Que, desta vez, a descensão aos infernos me permita um pequeno vislumbre do céu.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

As dioptrias de Elisa


Seis horas e Filipe ia ter com Elisa a casa dela. Filipe apareceu de rompante na rua e foi logo ter com ela a casa. Elisa não estava à janela, estava dentro de casa e Filipe bateu à porta da casa dela. Elisa abriu. Filipe entrou. Elisa à porta apaixonou-se logo por Filipe, o rapaz belo, e deram um grande beijo na boca. Filipe era a primeira vez que tinha assim uma mulher nos seus braços. Deixaram-se os dois e Elisa disse - «Como é que você sabia que eu era uma mulher assim, que o nosso caso viria dar nisto?» Filipe calou-se e não disse nada. Ainda disse - «Eu supunha por si Elisa que você me havia de aceitar quando me viu na rua domingo quando ia para o jardim com o seu marido e os seus filhos.» E depois ainda lhe perguntou - «Porque é que você gosta de mim?» Elisa passou-lhe a mão pela cabeça e respondeu -«Só posso estar apaixonada por si, o seu corpo, a sua pele, o seu pénis. Estou apaixonada por si Filipe.» - «Estou também apaixonado por si Elisa», disse Filipe. Elisa queria ter já a relação do coito, dos três coitos que haviam de ter até domingo às seis horas da manhã. Combinaram-se para a cama.
Elisa punha-se agora em combinação preta, sem calças por baixo. Queria a relação em combinação, a primeira relação, havia de ser pôr nua quando quisesse e fosse altura. Os olhos de Filipe perdiam-se de vista, dilatavam-se enormemente. Nunca tinha tido uma ocasião assim pois era a primeira vez que ia para a cama com uma mulher. Elisa puxava agora a baínha da combinação  preta para cima e mostrava-lhe a púbis. Filipe estava nu. Elisa já estava na cama. Chamou-o. Filipe deitou-se primeiro ao lado dela nu e depois subiu-lhe para cima. Em cima dela tirou-lhe a combinação. Estavam nus os dois.
Filipe introduziu-lhe o pénis. Elisa antes nua já tinha dado uma atenção ao pénis de Filipe muito grande. Nunca tinha visto um pénis tão grande a querer entrar em si na sua púbis. Elisa dizia-lhe agora - «Nunca vi um homem como você, o seu rabo pequeno e doce o seu sexo, estou perdida por si Filipe.» Filipe disse - «Você estua toda por mim, temos de ter a relação já.» Filipe introduziu-lhe outra vez o pénis feito, todo feito. Elisa queixou-se debaixo dele. Depois disse - «Ai, filho, querido, é tão bom.» Filipe já se masturbava já deitava a esperma toda fora dentro da vagina dela e cá fora. Tinha chegado ao momento. Filipe levantava-se de cima dela e andava nu um bocado no quarto ao que ela se estarrecia de lúbrica e sensual. Elisa estava ainda nua. Ainda não se podia vestir, agora já se vestia.