terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Os gestos que não fizémos e as palavras que não dissémos


«Quando pensava nela, ficava pasmado por ter deixado partir aquela rapariga com o seu violino. Agora, claro, percebia que a proposta abnegada que ela lhe fizera era irrelevante. Tudo o que ela precisava era da certeza do seu amor e de que ele lhe garantisse que não havia pressa, quando tinham a vida inteira pela frente. Amor e paciência – se ao menos ele tivesse possuído os dois ao mesmo tempo – por certo tê-los-iam ajudado aos dois. E então que crianças por nascer teriam tido as suas oportunidades, que menina com uma fita no cabelo se teria tornado a sua filha adorada? É assim, não fazendo nada, que todo o curso de uma vida pode ser alterado. Na praia de Chesil ele poderia ter chamado Florence, poderia ter ido no seu encalço. Não sabia, ou não quis saber que, quando ela fugiu dele, segura na sua angústia de que estava prestes a perdê-lo, ela nunca o amara mais, ou mais desesperadamente, que o som da sua voz teria sido uma libertação, e que ela teria retrocedido. Em vez disso, permaneceu no frio e no silêncio virtuoso do fim daquele dia de Verão, vendo-a caminhar apressada pela praia, com o som do seu avanço penoso abafado pelas pequenas vagas, até se tornar uma mancha indistinta, um ponto a desaparecer contra a imensa estrada de seixos a brilhar na luz pálida do lusco-fusco.»

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