quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Cenas de caça: Bacantes



«[…] “Vamos, ponde-vos em toda a volta e agarrai no tronco, ó Ménades, para apanharmos a fera trepadora, a fim de que ele não vá revelar as danças secretas do deus”. Milhares de mãos se deitaram ao abeto e o arrancaram da terra. Sentado nas alturas, das alturas é atirado e, no meio de milhares de gritos, cai ao chão Penteu. Bem compreendera que a desgraça estava perto.
A primeira a começar o ritual do morticínio é a mãe, que cai sobre ele. Penteu atira com a mitra que tinha sobre o cabelo, para que, reconhecendo-o, o não imolasse a desventurada Agave. Toca-lhe na face e diz: “Sou eu, ó mãe, o teu filho Penteu, a quem deste à luz no palácio de Equíon. Compadece-te de mim, ó mãe, não sacrifiques o teu filho por causa dos meus desvarios”.
Com a boca a espumar e revolvendo os olhos em todas as direcções, sem saber pensar direito, e dominada por Baco, não a persuadiu o filho. Agarra-lhe o antebraço esquerdo, apoia o pé no flanco do desventurado e desarticula-lhe o ombro, não pela sua própria força, mas pela destreza que o deus infundira em suas mãos.
Do outro lado actuava Ino, dilacerando as carnes. Antónoe e o bando todo das Bacantes assenhoravam-se dele. Por todos os lados se erguia um clamor: ele gemia com o alento que lhe restava, elas soltavam gritos de triunfo. Levava uma o braço, outra um pé ainda calçado. Desnudavam-se as costelas dilaceradas pelas unhas. Todas as mãos estavam ensaguentadas das carnes de Penteu atiradas como quem joga à bola.»

Eurípedes, As Bacantes, v. 1105-1140

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