domingo, 18 de setembro de 2016

Sobre o Teatro das Marionetas (1810)



«Portanto, meu excelente amigo, disse o Senhor C…, está agora na posse de tudo o que é necessário para me compreender. Vemos que, no mundo orgânico, à medida que a reflexão se torna mais obscura e mais fraca, a graciosidade se apresenta cada vez mais radiosa e soberana. – Porém, tal como a intersecção de duas linhas por um lado de um ponto, depois de percorrido o trajecto pelo infinito, se volta a verificar subitamente pelo outro lado do mesmo ponto, ou como a imagem do espelho côncavo, depois de se afastar até ao infinito, volta subitamente a surgir perante nós: assim também a graciosidade, depois de, por assim dizer, o conhecimento ter atravessado o infinito, volta a apresentar-se; e de tal maneira que surge em simultâneo e de modo mais puro naquela estrutura de um corpo humano que ou não possui consciência alguma, ou possui uma consciência infinita, i.e. ou no boneco articulado, ou num deus.
Sendo assim, disse eu, um pouco abstraído, teríamos de voltar a comer da Árvore do Conhecimento para regressarmos ao estado da inocência.

Sem dúvida, respondeu ele; esse é o último capítulo da história do mundo.»

Heinrich von Kleist

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