Lobelia foi uma menina endiabrada. Cresceu sozinha com o pai, guarda de passagem de nível numa estação ferroviária do sul. A salvo dos cuidados femininos, entregou-se sem pudor aos prazeres da solidão e do fogo. Ao início, incendiava somente estábulos abandonados e pequenos abrigos campestres. Mas toda a paixão é superlativa - sobretudo a do fogo.
Uma noite incendiou a própria casinha do apeadeiro. O pai nunca mais despertou para os comboios da madrugada.
A Lobelia aconteceram muitas coisas. O tempo foi o seu maior carrasco. Fumou-a. Casou, teve mais de uma dúzia de filhos. Não amou nem foi amada. Perdeu as formas belas e vive hoje à beira mar, amarga e completamente cega. Desactivada. Do seu amante fogoso, não conserva memória - a não ser a língua viperina, pontiaguda.
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