quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

as raparigas da província são mais doces




“O carro afrouxava a marcha e eu sabia que antes que o capot se cobrisse de flocos Mr. Gentleman ia dizer que me amava.
Mais do que certo; ele virou para um caminho lateral e parou o carro. Tomou o meu rosto na concha das suas mãos geladas e muito solenemente e muito tristemente disse o que eu esperava que dissesse. E esse momento foi inteira e totalmente perfeito para mim; e tudo quanto até ali eu sofrera foi confortado pela suavidade da sua voz terna e ciciante; sussurrando, sussurrando, como os flocos de neve. Uma espinheira à nossa frente estava revestida de branco como se fosse açucar, e a neve piorou e caía com tal força que mal conseguíamos ver. Ele beijou-me. Foi um beijo de verdade. Afectou todo o meu corpo. Os dedos dos pés, apesar de entorpecidos e apertados dentro dos sapatos novos, reagiram àquele beijo, e durante alguns minutos o meu espírito abandonou-me. Depois senti uma pinga na ponta do nariz e fiquei aborrecida.
«Narizes roxos», disse eu, procurando o lenço.
«O que são narizes roxos?», perguntou ele.
«É o nome dos narizes no Inverno», disse eu. Não tinha lenço, por isso ele emprestou-me o seu.”


Edna O’Brien, Raparigas da Província

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