segunda-feira, 3 de setembro de 2012

Madame Bovary é quase quase uma mulher de trinta anos muito orgulhosa…



“Com efeito, uma rapariga tem demasiadas ilusões, excessiva inexperiência, e o sexo é demasiado cúmplice do seu amor, para um jovem poder sentir-se lisonjeado; enquanto uma mulher conhece toda a extensão dos sacrifícios a fazer. Se uma é arrastada pela curiosidade, por seduções estranhas às do amor, a outra obedece a um sentimento consciente. Uma cede, a outra escolhe. Esta escolha não é imensamente lisonjeira? Armada com uma experiência quase sempre paga, por alto preço, com infelicidades, ao dar-se, a mulher experimentada parece dar mais do que ela própria, enquanto a jovem, ignorante e crédula, como não sabe nada, nada pode comparar, nada apreciar; aceita o amor e estuda-o. Uma instrui-nos, aconselha-nos, numa idade em que gostamos de ser guiados, em que a obediência é um prazer; a outra quer aprender tudo e mostra-se ingénua naquilo em que a primeira é terna. Aquela só permite um único triunfo; esta obriga a combates perpétuos. A primeira só tem lágrimas e prazeres, a segunda só voluptuosidades e remorsos. Uma, demasiado submissa, oferece a triste segurança da tranquilidade; a outra perde muito por não pedir ao amor as suas mil metamorfoses. Uma desonra-se sozinha, a outra mata uma família inteira por aquele a quem ama. Uma jovem só tem um atractivo a julga ter dito tudo quando se despe; mas a mulher tem-nos em grande número e oculta-os sob mil véus; em suma, afaga todas as vaidades, enquanto a noviça só lisonjeia uma. São excitantes, aliás, as indecisões, os pavores, o medo, as perturbações e as tempestades da mulher de trinta anos, que não se encontram nunca no amor duma rapariga (…). Finalmente, além de todas as vantagens da sua posição, a mulher de trinta anos pode tornar-se rapariga, representar todos os papéis, ser púdica e embelezar-se até com uma infelicidade. Entre ambas encontra-se a incomensurável diferença do previsto para o imprevisto, da força para a fraqueza. A mulher de trinta anos satisfaz a tudo; a jovem, sob pena de não o ser, não deve satisfazer a nada.”

Honoré de Balzac, A Mulher de Trinta Anos

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