Este foi um dos livros que
mais prazer me trouxe em 2018. AS ROTAS DA SEDA conta-nos como, através das
rotas comerciais da seda, que ligavam o Ocidente ao Oriente, se trocaram também
línguas, ideias, doenças, as religiões do mundo – ou seja, como a infecção desse
grande movimento de globalização é mais remota do que se pode pensar. Através
da enorme erudição de Peter Frankopan e da sua visão alternativa da história,
recebemos várias lições de humildade: a primeira, será a de que essa velha
Europa, só nos últimos séculos se tornou um agente representativo da mesma
história, tendo o seu papel sido nulo durante tempos mais remotos; e a maior de
todas, será perceber que os conceitos com que ainda hoje laboramos – tais como
os de nação, povo, raça – são extremamente artificiais. Entre muitos detalhes –
como, por exemplo, descobrimos que a palavra «escravo» se relaciona na sua
origem com a palavra «eslavo», pois o «império árabe» (chamemo-lo assim, para
abreviar) preferia escravos louros dessa região; ou saber que chamamos «russos»
aos povos que vivem na Rússia, por estes serem ruivos vikings que extinguiram
os povos indígenas dessa zona geográfica – chegamos à conclusão que o que
constitui toda a civilização humana é a violência perpétua de uns contra outros.
A ser assim, complexifica-se e muito a questão da indemnização histórica –
sendo cada «nação» formada a partir de múltiplos sacrifícios e extermínios, não
existe pureza de raça nem uma genealogia pura que permita isolar os vencidos
dos vencedores – pois todos os que restam são vencedores e como tal culpados ao
mais alto grau.
Em suma, é um livro de
história – uma história mais longa do que essa versão amputada que a modernidade
capitalista tratou de reescrever – mas lê-se como uma poema épico sobre a
humanidade e a sua violência inerente e estrutural, que atravessa todos os povos,
raças e credos, de forma muitas vezes aleatória.
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