É um daqueles livros tão
preciosos que tudo o que se disser para o descrever fica aquém. Roberto Calasso
é, juntamente, com Giorgio Agamben e Pietro Citati (todos eles italianos, por um
qualquer acaso ou não) um dos literatos vivos (na verdadeira acepção da palavra
e não na sua versão hipster,
infelizmente tão disseminada mediaticamente) cuja erudição mais admiro.
49 DEGRAUS reúne vários
ensaios de Calasso e a edição portuguesa da Cotovia reúne apenas 11 dos 37
ensaios da publicação original, ou seja, uma pequena amostra, ainda assim
deliciosa. Estes ensaios versam sobre vários tópicos, desde Roberto Bazlen,
Adorno, Karl Krauss, Musil, Homero, Flaubert, Simone Weil, Stendhal, Brecht,
Freud, Céline e, claro está, Walter Benjamin. Aliás, o ensaio homónimo é dedicado
a esse autor e à teoria talmúdica dos 49 degraus de significado de cada
passagem da Torá. E creio que, referindo-se a Benjamin, Calasso nos fala dele e
do caminho autêntico do literato: «renunciar,
com hipócrita modéstia, ao texto sagrado, mas ao mesmo tempo tratar qualquer
outro texto que seja objecto de comentário com a mesma devoção e meticulosidade
que o texto sagrado tradicionalmente exige.» A prosa elegante e a
desenvoltura hermenêutica com que Calasso versa sobre vários autores e topos da cultura provam-no: um literato
deverá antes de mais ser um exegeta, ou não será.
O meu exemplar custou-me 2
euros na Feira do Livro de Lisboa de 2009 e, raios me partam, se não foi uma
pechincha!
Sem comentários:
Enviar um comentário