Gostei
muito de A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS e não tenho a certeza de conseguir
explicar bem. Trata-se de uma daquelas obras-primas que consegue submergir-nos
completamente, envolvendo-nos numa atmosfera única, redonda, imaculada e vítrea.
Qual redoma de cristal, nocturna e azulada, onde jovens mulheres nuas dormem
profundamente sob o efeito de poderosos narcóticos, abandonadas na sua
inconsciência à contemplação por homens idosos.
A edição
portuguesa é apresentada por uma introdução de Yukio Mishima, que começa por afirmar
o seguinte: «Parece haver, entre as obras dos grandes escritores, aquelas que
poderiam ser chamadas do obverso ou exterior, de significação à superfície, e
aquelas do reverso ou interior, de significação oculta; ou poderíamos
compará-las ao Budismo exotérico e esotérico! No caso de Kawabata, Terra de Neve inclui-se na primeira
categoria, enquanto A Casa das Belas
Adormecidas é seguramente uma obra-prima esotérica.»
Na minha
biblioteca mental, A CASA DAS BELAS ADORMECIDAS mora ao lado de GOLPE DE
MISERICÓRDIA: dois tratados preciosos e voláteis sobre as esquivas ligações entre o erotismo, a transgressão e morte. Pois nas terras áridas dos maiores mistérios, o esforço mais recompensado é aquele que arrisca apenas o voo rasante da insinuação.
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