terça-feira, 27 de dezembro de 2011

Homenagem a Robert Walser








UMA HISTÓRIA DE AMOR INFELIZ





Era uma vez um homem e uma mulher e traziam ambos os corações apodrecidos pelo medo quando se encontraram.



No caso do homem, o medo mirrara-lhe o coração já pequenino, fazendo-o sentir-se como uma lebre correndo num circuito asfixiado. Como artimanha, o homem fingia ser muito grande, convencendo todos de que era bonito, inteligente e terno.


No caso da mulher, o medo dilatara-lhe o coração, fazendo-a sentir-se como uma mónada esquecida na infinitude voraz. Como artimanha, a mulher fingia ser muito pequena, a todos convencendo ser menos bonita, inteligente e terna do que realmente era.


Deram-se ilusões de paixão. A mulher julgou que envolta nos braços pesados de um homem grande jamais se sentiria sozinha; acordava, no entanto, de manhã, amachucada a um canto, ainda mais minúscula que na noite anterior. O homem pensou que o amor de uma mulher pequena seria económico e portátil, reconfortando-o em toda a parte; deitava-se, no entanto, todas as noites com os músculos extenuados, como se carregasse um fardo pesado.


Mas quando se encontravam na cama, terra onde todos os duelos são justos e leais, despiam o medo e então o grande homem encolhia dentro do corpo alagado da pequena mulher, que se abria e o tragava.

Constataram, ao fim de alguns desencontros, que a insistente dissimetria os impedia de se inventarem nos olhos do outro. Separaram-se – e foi tudo (ou nada).

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