A minha introdução à obra de D.H. Lawrence aconteceu pela
antologia AMOR NO FENO E OUTROS CONTOS. Embora não me tenha arrebatado por aí
além, gostei particularmente dos contos AMOR NO FENO, FOI PRECISO UM CAVALO DE
BALOIÇO e O HOMEM QUE MORREU.
FOI PRECISO UM CAVALO DE BALOIÇO será o mais triste de
todos, pelo final trágico devido à compulsão do consumismo que devora toda a
interioridade e possibilidade de satisfação. Nos outros dois contos há uma
redenção final pelo amor («Ela baixou-se para ele e agarrou-se-lhe ao pescoço,
apertando-a ao seio num frenesim de dor. A amarga desilusão da vida, a vergonha
e a degradação contínua dos últimos quatro anos tinham-na empurrado para a
solidão e endurecido até grande parte do seu ser ficar empedernida e estéril. Agora,
abrandava de novo e despontava nela a promessa de uma Primavera linda. Estivera
a caminho de vir a tornar-se numa velha feia.») sobretudo n’ O HOMEM QUE
MORREU, fantasia de uma outra vida de Jesus Cristo, erguida em corpo após a ressurreição:
Depois, lenta, lentamente, na
escuridão perfeita do homem em si, ele sentiu que algo começava a despontar. A madrugada,
um sol novo. Um sol novo subindo em si, na perfeita escuridão interior do seu
ser. Esperou, contendo a respiração, trémulo, numa esperança temerosa… «Agora
já não sou eu. Sou algo de novo…»
E, enquanto se erguia sentiu,
com um bafo frio de desapontamento, a cinta da mulher viva abrandar e descair
dele, o calor e a incandescência a descair dele, deixando-o nu. Ela enroscou-se,
exausta, aos pés da deusa, escondendo o rosto.
Curvou-se e pousou a mão,
docemente, no ombro claro e morno dela; e o choque do desejo lancinou-o, choque
após choque e pensou se não seria esta uma outra morte: mas cheia de magnificência.
Agora, toda a sua consciência estava
posta na mulher, enroscada, escondida. Baixou-se ao lado dela e acariciou-a
terna, cegamente, murmurando coisas inarticuladas. E a sua morte e a sua paixão
pelo sacrifício eram, agora, nadas para ele – conhecia apenas a plenitude
enroscada daquela mulher, a branda pedra branca da vida… «Sobre esta pedra
construí a minha vida.» A pedra de pregas profundas, a pedra penetrável da
mulher viva! A mulher, escondendo o rosto. Ele, curvado sobre ela, poderoso e
novo como a madrugada.
Chegou-se todo a ela e sentiu a
labareda da virilidade e a força erguerem-se-lhe nos rins, magnificientes.
«Ergui-me!»
Magnificente, flamejando
indomitável na profundeza dos seus rins, despertava o seu sol próprio, que
dardejava o seu fogo pelos membros dele, de tal modo que o rosto cintilava
inconscientemente.
Desatou a fita da túnica de
linho e deixou-a tombra e viu o brilho branco dos peitos branco-e-ouro dela. E tocou-os
e sentiu a vida fundir-se em si. «Pai!», disse ele. «Porque escondeste isto de
mim?» E tocou-a com a pungência do espanto e a maravilhosa transcendência
penetrante do desejo. «Oh!», disse ele, «isto está para além da oração.» Era o
calor profundo, entremeado, o calor vivo e penetrável, a mulher, o coração da
rosa! A minha mansão é a intrincada rosa quente, o meu júbilo é esta flor!
Ela levantou os olhos para ele,
de repente, com o rosto como uma luz desperta, ávido, terno, os olhos como
muitas flores húmidas. E ele apertou-a ao peito com uma paixão de ternura e
desejo devorador e o último pensamento: «É chegada a minha hora e sou tomado de
surpresa…»
E então conheceu-a e os dois
foram um só.»
De qualquer dos modos, é uma leitura recomendada. O
sensualismo de D.H. Lawrence agradam muito, bem como alguns comentários mais
inteligentes, como este por exemplo: «O
homem ergueu-se obedientemente. Todo ele era descontracção, parasitismo,
insolência. Geoffrey tinha-lhe nojo, apetecia exterminá-lo. Era exactamente o
pior inimigo do hipersensível: insolência sem sensibilidade, à cata da
sensibilidade dos outros.»
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