quarta-feira, 4 de janeiro de 2017

Feminismo punk


Escrevo da terra das feias, para as feias, as velhas, as machonas, as frígidas, as malfodidas, as infodíveis, as histéricas, as taradas, todas as excluídas do grande mercado das gajas boas. E começo por aqui para que as coisas sejam claras: não peço desculpa de nada, não me venho lamentar. Não troco o meu lugar com ninguém, porque ser Virginie Despentes parece-me uma tarefa mais interessante de cumprir do que qualquer outra.


Acho óptimo que haja também mulheres que gostam de seduzir, que sabem seduzir, outras arranjar marido, mulheres que cheiram a sexo e outras a bolo do lanche das crianças que saem da escola. E óptimo que haja umas muito meigas, outras esfuziantes na sua feminilidade, que haja mulheres jovens, muito belas, outras vaidosas e flamantes. A sério que fico muito contente por todas aquelas a quem as coisas tal como são convêm. Acontece, porém, que não me integro nesse grupo (…). É na minha qualidade de proletária do feminismo que falo, que falei ontem e que recomeço hoje (…). Sou o tipo de mulher com quem não se casa, com quem não se tem um filho, falo da minha posição de mulher que é sempre demasiado em tudo o que é, demasiado agressiva, demasiado ruidosa, demasiado grosseira, demasiado brutal, demasiado hirsuta, sempre demasiado viril, dizem-me. Porém, são as minhas qualidades viris que fazem de mim qualquer coisa diferente de um caso social entre os outros. Tudo de que gosto da minha vida, tudo o que me salvou, devo-o à minha virilidade.

2 comentários:

Patrícia disse...

:)
Não podíamos estar em leituras mais divergentes.
Leio as cartas de Abelardo e Heloísa.
Beijinhos.

Madame Bovary disse...

:)
E recomendas?
Agora ando a ler AS VOZES DE CHERNOBYL. Comecei ontem e, apesar de duro, já me cativou. Aquele povo russófono é qualquer coisa.
Tenho de te escrever. Fá-lo-ei em breve.
Beijinhos,
Patrícia