segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Der Dopplegänger





«O desconhecido estava sentado à sua frente, também de sobretudo e chapéu, na sua cama, sorria ligeiramente, e, franzindo um pouco os olhos, acenou-lhe amigavelmente com a cabeça. O senhor Goliádkin queria gritar, mas não pode — protestar de alguma maneira, mas não lhe chegavam as forças. Tinha os cabelos em pé e sentou-se no seu lugar, insensível de horror. E de resto havia razão para isso. O senhor Goliádkin reconheceu completamente o seu amigo notcurno. O seu amigo nocturno não era outro senão ele próprio — o próprio senhor Goliádkin, outro senhor Goliádkin, mas exactamente como ele — numa palavra, aquilo a que se chama o seu duplo em todos os aspectos…»


É do mestre e vale cada pagina. Embora aparente ser um Dostoievski menor, lê-se de uma assentada, com aflição, furor e abjecção. Foi publicado quando Dostoievski tinha apenas 24 anos: já tinha começado a grande escavação psicológica donde extrairia Raskolnikóv e os irmãos Karamázov . молодец!

3 comentários:

Susana Rodrigues disse...

Olá Patrícia :-)

Um dia li aqui neste blogue que para ti o melhor livro de todos era o "Crime e Castigo" desse mesmo mestre. Li-o por causa do teu post (já foi há muito tempo).

E sim, é magnífico. Mas hesito se "O Idiota" não será ainda melhor.

"O Duplo" ainda não li.

Madame Bovary disse...

Olá, Susana,

Fico muito contente por saber que o meu post te levou a ler o CRIME E CASTIGO. De facto, até agora é o meu livro preferido e é bom saber que também te agradou.
Eu ainda não li O IDIOTA. Tinha pensado ler OS DEMÓNIOS agora mas vou retribuir-te a graça e ler já O IDIOTA. Escrevo-te depois a dizer se é melhor (e desejo muito que o seja!).
Um abraço.

Susana Rodrigues disse...

Ai, então agora vou ficar muito curiosa na expectativa da tua opinião!

Fico a torcer para que inicies a viagem ao lado d'O Idiota no comboio que o introduz em Moscovo (e espero não estar a cometer falhas) e que te sintas sempre inspirada na sua companhia. Eu senti.

Beijinhos e boa leitura!