Creio que
sempre tive uma grande voracidade sexual. Não só as éguas, as porcas, as
galinhas ou as peruas, mas quase todos os animais foram objecto da minha paixão
sexual, incluindo os cães. Havia um cão que me proporcionava um grande prazer;
escondia-me com ele atrás do jardim tratado pelas minhas tias e aí o obrigava a
mamar-me na piça; o cão acostumou-se e, com o tempo, fazia aquilo
voluntariamente.
Aquela fase entre os sete e os dez
anos foi para mim de um grande erotismo, de uma voracidade sexual que, como já
disse, abarcava quase tudo. Abarcava a natureza em geral, pois também abrangia
as árvores. Por exemplo, nas árvores de tronco macio, como o mamoeiro,
abria-lhes um buraco onde introduzia o pénis. Era um grande prazer ter gozo
numa árvore; também os meus primos o faziam; faziam-no com os melões, com as
cabaças, com as anonas. Um dos meus primos, o Javier, confessava-me que o maior
prazer era o que sentia quando tinha gozo com um galo. Um dia o galo acordou
morto; não acredito que tenha sido por causa do tamanho do sexo do meu primo,
que era, evidentemente, bastante pequeno; creio que o pobre galo morreu de
vergonha por ter sido ele o fornicado, quando era ele que costumava fornicar
todas as galinhas do pátio.
Seja como for, há que ter em conta
que, quando se vive no campo, se está em contacto directo com o mundo da
natureza e, portanto, com o mundo erótico. O mundo dos animais é um mundo
incessantemente dominado pelo erotismo e pelos desejos sexuais. As galinhas
passam o dia inteiro cobertas pelo galo, as éguas pelo cavalo, a porca pelo
varrão; os pássaros têm o seu gozo no ar; as pombas, depois de um grande
barulho e grandes facécias, acabam por se pegar com certa violência; as
lagartixas contendem umas com as outras horas e horas; as moscas fornicam em
cima da mesa em que comemos; os porquinhos-da-índia parem todos os meses; as
cadelas, quando são penetradas, armam tal algazarra que são capazes de excitar
as freiras mais pias; as gatas com cio uivam de noite com tal veemência que
despertam os desejos eróticos mais recônditos… É falsa a teoria sustentada por
alguns acerca da inocência sexual dos camponeses; nos meios do campo existe uma
força erótica que geralmente supera todos os preconceitos, repressões e
castigos. Essa força, a força da natureza, impõe-se. Acho que no campo poucos
são os homens que não tiveram relações com outros homens; neles, os desejos do
corpo estão acima de todos os sentimentos machistas que os nossos pais se
encarregaram de inculcar em nós.
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