Tillie Olsen: mais uma grande autora que eu desconhecia,
revelada pela poderosa Antígona. Tive alguma dificuldade inicial em alinhar com
o estilo de escrita mas cheguei ao final da leitura dos 4 contos completamente
de joelhos. Neles se escreve sobre as adversidades que afectam as classes desprivilegiadas,
sobre a segregação, a solidão e sobretudo sobre «os silêncios que impedem vidas
de se converter em escrita». O conto final, CONTA-ME UMA ADIVINHA, que intitula
a antologia, e a sua protagonista Eva, uma velha matriarca em guerra contra a
sociedade patriarcal, dobrou-me a espinha, obrigando-me a ler o final de olhos marejados.
Reabriam-se velhas cicatrizes e as feridas infectavam de
novo. Tchekov, nem mais. Ela pensou sem brandura na jovem esposa que, altas
horas da noite, amamentando o bebé do momento, e quem sabe com outro ao colo,
tentava manter-se acordada no pouco tempo, o único, que tinha para ler. Quando ele
chegava tarde de uma reunião e a encontrava assim, ela sentia-lhe na face a
atmosfera exterior, e ele, fremente e excitado, cheirava-lhe a pele,
provocador: ‘Vou pôr o bebé na cama e tu… arruma o livro, não leias, não leias.
(…)
(Toda a vida me deitou vinagre: estou bem marinada. Como posso
agora ser só mel?)
(…)
No entanto, enquanto falava, lembrou-se de que ela nem sempre
estivera isolada, nem sempre quisera estar só (pois sabia que houvera uma voz
antes daquele frágil fio; antes da voz rouca que cortava o silêncio para
fustigar, implicar, para o envergonhar: uma eloquente voz de rapariga que
pronunciava os sonhos mais sagrados de ambos). Mas mais uma vez foi incapaz de
reconstituir, de imaginar o que houvera antes, nem quando ou como tinha mudado.
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