sexta-feira, 5 de outubro de 2018

As Forças Estranhas



Descobri mais um mistério, novamente graças à Sistema Solar e ao magnífico Aníbal Fernandes: Leopoldo Lugones. A selecção de contos é muito boa e os textos de apresentação de Aníbal Fernandes não ficam atrás, quer pelo nível literário, quer pela profusão de bibliografia consultada que pressupõem para oferecer ao leitor toda a informação condensada. Quanto ao Lugones, apreciei muito o seu estilo: os vários contos recuperam civilizações perdidas, sugerindo não apenas uma enorme erudição histórica do autor, como também um estudo apurado de várias mitologias e tradições místicas – dos trabalhos de Hércules à civilização egípcia, passando por alguns episódios da Bíblia e pela Ordem dos Assassinos – temas que me vêem interessando cada vez mais nos últimos tempos.
AF começa por nos contar o suicídio do autor, cita a sua nota de despedida (Peço que me enterrem na terra sem caixão, sem nome que me recorde; proíbo que o meu nome seja atribuído a um qualquer lugar público; não culpo ninguém de nada; sou o único responsável por todos os meus actos.), vai até ao detalhe de nos informar que esse último quarto de hotel ainda existe e se mantém fora de serviço, tal como Lugones o deixou no dia da sua morte. Seguem-se vários textos de apresentação que ajudam a esclarecer os contos de cada secção, com especial destaque para o fenomenal resumo bíblico que AF faz do Génesis, do Dilúvio e da destruição de Sodoma e Gomorra.
E foi precisamente nestes 3 contos bíblicos que começou o meu fascínio por Leopoldo Lugones. «A Chuva de Fogo» conta-nos as últimas horas de Gomorra por um habitante desta cidade; «A Estátua de Sal» prossegue com a história da mulher de Lot e «A Origem do Dilúvio» remata com uma espécie de fantasia científica e um dos desenlaces mais surpreendentes que li – uma pequena sereia morta na bacia do lavatório, genial! O conto «Yzur» ofereceu-me uma comoção inaudita por um macaco, Yzur de seu nome, que rapidamente se estendeu a toda a humanidade. «Nuralkámar» impressionou-me sobretudo pelos vastos conhecimentos que o autor denota da poesia árabe.
E eis que chego rendida aos 3 últimos contos, extraídos da antologia Cuentos Fatales. Novamente encontramos numa antecâmara as palavras mestras de AF (Os contos «O Vaso de Alabastro», «Os Olhos da Rainha» e «O Punhal» são relatos onde o próprio Lugones se revela depositário de revelações que levam à morte quem não as respeita ou (no último caso) as aprofunda, tornando-se um verdadeiro «iniciado».) e a fabulosa imagem desse punhal que dá nome ao último conto e que terá pertencido a um druso seguidor e herdeiro das tradições da Ordem dos Assassinos, acabando na posse de Lugones. Quiçá da forma que o conto narra… Cheguei rendida, saio de gatas. Ide ler! 

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