Descobri mais um mistério,
novamente graças à Sistema Solar e ao magnífico Aníbal Fernandes: Leopoldo
Lugones. A selecção de contos é muito boa e os textos de apresentação de Aníbal
Fernandes não ficam atrás, quer pelo nível literário, quer pela profusão de
bibliografia consultada que pressupõem para oferecer ao leitor toda a
informação condensada. Quanto ao Lugones, apreciei muito o seu estilo: os
vários contos recuperam civilizações perdidas, sugerindo não apenas uma enorme
erudição histórica do autor, como também um estudo apurado de várias mitologias
e tradições místicas – dos trabalhos de Hércules à civilização egípcia,
passando por alguns episódios da Bíblia e pela Ordem dos Assassinos – temas que
me vêem interessando cada vez mais nos últimos tempos.
AF
começa por nos contar o suicídio do autor, cita a sua nota de despedida (Peço que me enterrem na terra sem caixão,
sem nome que me recorde; proíbo que o meu nome seja atribuído a um qualquer
lugar público; não culpo ninguém de nada; sou o único responsável por todos os
meus actos.), vai até ao detalhe de nos informar que esse último quarto de
hotel ainda existe e se mantém fora de serviço, tal como Lugones o deixou no
dia da sua morte. Seguem-se vários textos de apresentação que ajudam a
esclarecer os contos de cada secção, com especial destaque para o fenomenal
resumo bíblico que AF faz do Génesis, do Dilúvio e da destruição de Sodoma e
Gomorra.
E
foi precisamente nestes 3 contos bíblicos que começou o meu fascínio por
Leopoldo Lugones. «A Chuva de Fogo» conta-nos as últimas horas de Gomorra por
um habitante desta cidade; «A Estátua de Sal» prossegue com a história da
mulher de Lot e «A Origem do Dilúvio» remata com uma espécie de fantasia
científica e um dos desenlaces mais surpreendentes que li – uma pequena sereia
morta na bacia do lavatório, genial! O conto «Yzur» ofereceu-me uma comoção
inaudita por um macaco, Yzur de seu nome, que rapidamente se estendeu a toda a
humanidade. «Nuralkámar» impressionou-me sobretudo pelos vastos conhecimentos
que o autor denota da poesia árabe.
E
eis que chego rendida aos 3 últimos contos, extraídos da antologia Cuentos Fatales. Novamente encontramos numa
antecâmara as palavras mestras de AF (Os
contos «O Vaso de Alabastro», «Os Olhos da Rainha» e «O Punhal» são relatos
onde o próprio Lugones se revela depositário de revelações que levam à morte
quem não as respeita ou (no último caso) as aprofunda, tornando-se um
verdadeiro «iniciado».) e a fabulosa imagem desse punhal que dá nome ao
último conto e que terá pertencido a um druso seguidor e herdeiro das tradições
da Ordem dos Assassinos, acabando na posse de Lugones. Quiçá da forma que o
conto narra… Cheguei rendida, saio de gatas. Ide ler!
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